O mundo é nossa aldeia ampliada.
Os choros e as lamentações, as alegrias e os prazeres, os medos, os temores e as
seguranças, que se sentem por aqui são os mesmos que se sentem ali adiante. De
algum modo o que se faz por aqui é o que se faz lá e acolá.
Os
trambiques, as maracutaias, as tramoias do andar de baixo se reproduzem nos
andares de cima. Porém, aqui vai um detalhe importante, quanto mais alto o
andar maior o enrosco. Se seu João do Armazém coloca no caderninho alguns centavos
a mais na conta de cada um dos seus clientes, preventivamente criando um fundo
para resgatar os valores perdidos quando um dos caloteiros esquece-se de pagar
a conta no final do mês, nos andares de cima esta conta cresce sobremaneira.
Basta
perder mínimo tempo acessando estas informações sobre as tramas que envolvem
este gentaredo* em Brasília para constatar que o negócio por lá cresce a cada
dia que passa. E ninguém fala em trocados. Um milhão de dólares é merreca. Não
vale nem uma delação premiada. Não sai na capa de nenhum periódico. É coisa de
pé de chinelo, de bandido de pouco lastro, de chibungo* (como falavam nos velhos
policiais).
Os
valores são tão grandes que meus amigos virtuais, tão zelosos em relação aos
filhos dos outros, nem bufaram quando se divulgou que o Nenê, filho do rei, já
tinha como patrimônio um apartamento de dois milhões. Coisa pouca. Se seguir
neste ritmo, quando chegar aos dezoito o piá será um Ted Turner brasileiro.
Mas,
não alimentemos nossos pensamentos achando que isso é privilégio do Planalto
Central. Por aqui, onde as cabras vivem soltas, tem muito empresário que quebra
a empresa hoje e amanhã abre outra com o CPF de um empregado qualquer. Muitas
vezes, o novo dono da empresa nem sabe que é acionista. Vai ficar sabendo
quando o Oficial de Justiça aparecer na frente de sua casa para citá-lo de uma
ação de execução fiscal. Aí lembrará que emprestou seu nome e endereço por
troca de uns pilas para resolver o problema do patrão.
Na
planície o golpe será pequeno. Não resultará numa CPI nem numa ação
policialesca de alto quilate, muito menos numa retumbante manchete que abrirá o
Jornal do Marinho. No entanto, a tramoia
será a mesma.
Nossa
aldeia está em sintonia com tudo o que se passa por outros cantos. O mundinho
daqui vai se reproduzindo além fronteiras. Vai ganhando, é verdade, novas
cores, novos personagens e valores mais significativos. Mas, nada que
surpreenda. O Planalto Central é um espelho. Vimos coisas escabrosas. É uma
ilha da fantasia, diria alguém. Qual nada: é bem mais um filme de terror! Glossário:
Gentaredo - o mesmo que muitas pessoas, aglomerado de gente.
Chibungo - Na gíria policial, ladrão de pouca expressão. Na Bahia e em outras regiões é sinônimo de homossexual e gay.
Se gostas de filmes de terror veja a lista do Top 20 da Obvious: Lista Obvious
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