07/06/2016

Filme de Terror

O mundo é nossa aldeia ampliada. Os choros e as lamentações, as alegrias e os prazeres, os medos, os temores e as seguranças, que se sentem por aqui são os mesmos que se sentem ali adiante. De algum modo o que se faz por aqui é o que se faz lá e acolá.
Os trambiques, as maracutaias, as tramoias do andar de baixo se reproduzem nos andares de cima. Porém, aqui vai um detalhe importante, quanto mais alto o andar maior o enrosco. Se seu João do Armazém coloca no caderninho alguns centavos a mais na conta de cada um dos seus clientes, preventivamente criando um fundo para resgatar os valores perdidos quando um dos caloteiros esquece-se de pagar a conta no final do mês, nos andares de cima esta conta cresce sobremaneira.
Basta perder mínimo tempo acessando estas informações sobre as tramas que envolvem este gentaredo* em Brasília para constatar que o negócio por lá cresce a cada dia que passa. E ninguém fala em trocados. Um milhão de dólares é merreca. Não vale nem uma delação premiada. Não sai na capa de nenhum periódico. É coisa de pé de chinelo, de bandido de pouco lastro, de chibungo* (como falavam nos velhos policiais).
Os valores são tão grandes que meus amigos virtuais, tão zelosos em relação aos filhos dos outros, nem bufaram quando se divulgou que o Nenê, filho do rei, já tinha como patrimônio um apartamento de dois milhões. Coisa pouca. Se seguir neste ritmo, quando chegar aos dezoito o piá será um Ted Turner brasileiro.
Mas, não alimentemos nossos pensamentos achando que isso é privilégio do Planalto Central. Por aqui, onde as cabras vivem soltas, tem muito empresário que quebra a empresa hoje e amanhã abre outra com o CPF de um empregado qualquer. Muitas vezes, o novo dono da empresa nem sabe que é acionista. Vai ficar sabendo quando o Oficial de Justiça aparecer na frente de sua casa para citá-lo de uma ação de execução fiscal. Aí lembrará que emprestou seu nome e endereço por troca de uns pilas para resolver o problema do patrão.
Na planície o golpe será pequeno. Não resultará numa CPI nem numa ação policialesca de alto quilate, muito menos numa retumbante manchete que abrirá o Jornal do Marinho.  No entanto, a tramoia será a mesma.
Nossa aldeia está em sintonia com tudo o que se passa por outros cantos. O mundinho daqui vai se reproduzindo além fronteiras. Vai ganhando, é verdade, novas cores, novos personagens e valores mais significativos. Mas, nada que surpreenda. O Planalto Central é um espelho. Vimos coisas escabrosas. É uma ilha da fantasia, diria alguém. Qual nada: é bem mais um filme de terror!  

Glossário:

Gentaredo - o mesmo que muitas pessoas, aglomerado de gente.
Chibungo - Na gíria policial, ladrão de pouca expressão. Na Bahia e em outras regiões é sinônimo de homossexual e gay.

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