16/12/2015

A Aquarela


É inevitável, até mesmo clichê, conceber este período do ano como mais um ciclo que se fecha. Estes dias de Natal e de Ano Novo bem se assemelham à escalada de uma montanha. Chegamos no topo. Nem todos, é verdade: há os que ficaram pelo caminho, vencidos pelo cansaço do corpo, pela preguiça, pela falta de vontade, pela imobilidade voluntária ou não. Porém, em regra, superamos o que havia pela frente. O vento frio, o tempo ruim, as dores no corpo. Porém, o tempo para a contemplação dura muito pouco. Os olhos já notam que, ao longe, novos caminhos vão se abrindo no horizonte. Novos rumos vão se apresentando. Nem sempre de maneira cristalina. Mas, lá estão.

A caminhada se apresenta longa. E há tempo disponível para que todos realizem sua tarefa. Se, de algum modo, alguém ficou pelo meio do caminho, logo ali na frente, o caminho será retomado e a vida segue como deve. Ao menos esta é a visão dos místicos, dos espiritualistas, dos seres que intuem um mundo além da dimensão material. E para esta turma, que cresce cada vez mais, há muita coisa pela frente. Montanhas e mais montanhas a serem superadas. Há vales, é verdade. Há riachos fáceis de serem vencidos. Mas, é certo que há rios mais caudalosos. Tempestades. Trovões. Pedras que rolam deixando o chão mais instável. Algumas certezas se apresentam. O sol continuará a brilhar. A lua se fará presente em muitos momentos. Noutros, se manterá escondida. Tímida uns dias, se esconderá atrás de nuvens. Brilhante, reluzente e atrevida em outros, servirá de guia para os que marcham à noite.
E há, isto sim, muito chão pela frente. Às vezes, no dia a dia, o desafio será simplório. Acordar cedo, tomar o café, ir para o trabalho, correr daqui para lá e de lá para cá. Pagar a conta no final do mês. Dar uma passada na lotérica para fazer a fezinha na loteria que, de sã consciência, sabemos todos, enche os cofres do sistema e vende a ilusão de uma fortuna que está logo ali, mas que é intocável. A vida seria muito dura para muitos se não houvesse a esperança da sorte. Tão improvável, mas que, de algum modo, se apresenta tão sorridente e sedutora.
Há alguns que desprezam esta ideia de ciclos. Acreditam que é uma grande bobagem. É uma balela. Um papo místico, desprovido de comprovação científica. Uma falsa verdade. Não importa. Há espaço para todo o mundo. Há tempo para que cada um perceba a vida como melhor seus olhos captarem.
Tem gente que compara a vida como uma tela. Uma grande tela. E cada um pinta a sua usando as tintas que dispõe. As experiências vão sendo retratadas na tela. E estas pinturas vão formando um grande painel. E as cores todas se misturam. Nem todos terminam sua obra no mesmo tempo, é verdade. Alguns são mais rápidos. Dominam as técnicas e têm mãos treinadas e sensíveis. Lançam a quantia necessária de verde, de vermelho e de azul. Meios tons. Perspectiva. Outros lambuzam infantilmente a tela. Brincam exageradamente com os pincéis. Descobrirão um dia, por si só ou observando os mestres, os principais macetes. E aí, do alto da montanha, fixarão na mente e no espírito a paisagem que dará um novo sentido a seu quadro.

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