O rádio de tempos atrás era muito diferente. Por aqui, na aldeia, a
programação local por muito tempo esteve baseada na música e nos
apresentadores. Lá pelos anos 70, liam-se cartinhas com pedidos
musicais. “Janaína da Baixada oferece a próxima página musical
para seu noivo Leopoldo”. Página musical, no caso, era uma canção,
uma música. A própria locução era mais solene. Alguns tratavam
seus ouvintes de dileto ouvinte. Em alguns horários, as propagandas
eram destinadas à dona de casa, pois o homem saia para trabalhar e o
rádio entretinha a mulher, responsável pelas lides domésticas.
No interior, demorou até a interatividade migrar do papel das
cartinhas e dos bilhetes para a linha telefônica. Ocorre que
telefone era coisa rara, um produto muito caro suportado somente por
empresas e profissionais liberais de reconhecida capacidade
financeira. Com o surgimento dos orelhões, telefones públicos
alimentados por fichas, a comunicação entre o rádio ouvinte e o
apresentador do programa ganhou em dinamicidade. O desafio era
reduzir o chiado e tornar a voz do participante um pouco mais
audível.
Hoje, com a comunicação em massa, através dos telefones celulares
e dos aplicativos instantâneos, as rádios verdadeiramente dão voz
ao ouvinte. Por um lado, garantem as emissoras um leque de
informações imensurável, na medida em que ouvintes de vários
locais distantes podem atualizar em tempo real informações como as
condições climáticas, o andamento do trânsito, o mal
funcionamento de um serviço público ou mesmo privado, entre outros.
As emissoras que tratam de futebol e de amenidades, então,
especializaram-se em “ouvir o ouvinte”. Teses e mais teses sobre
escalações, preferências por este ou aquele jogador, a corneta do
torcedor, o xingamento ao juiz que marcou ou deixou de marcar um
pênalti ou outras coisas menos ou mais significativas. Mudo de
estação quando o apresentador começa a ler o “recado da galera”.
O rádio, apesar de ter perdido muito em termos de impacto com o
surgimento do MP3, do pen drive e dos aplicativos que disponibilizam
intermináveis playlists, que possibilitam horas de música sem
intervalos comerciais, ainda assim mantém-se como meio mais rápido
de informação.
Não só o rádio foi atropelado pelos novos tempos. A comunicação
instantânea mudou também a edição do jornal. A notícia
bombástica não fica mais esperando pelas rotativas do jornal. Ela é
publicada antes pelos sites na internet. Muda a forma de comunicação
mudam os meios, mudam os costumes. Com isso, todo o mundo vai se
adaptando para continuar no mercado.
Uma das primeiras mudanças é a primazia pela velocidade. Como os
sites podem ser atualizados instantaneamente, as notícias são
servidas aos poucos, muitas vezes ministradas em pílulas. Acidente
em algum lugar do mundo. Não há registros de mortes. Buscas são
realizadas pelas autoridades. Aparecem as vítimas. Estimam-se
tantos. Imagens do acidente feitas por celular. E assim segue o dia.
Cada minuto um novo detalhe. Até que, em dado momento, algum boletim
é emitido com a extensão real do problema. Todo o mundo acompanha
em tempo real repercutindo nas redes sociais.
O rádio mudou. O jornal mudou. O Mundo mudou nos últimos tempos.
Porém, não consta que todas essas mudanças tenham sido
acompanhadas de aumento de qualidade. Agora que tudo está mais
veloz, mais frenético isto é verdade. Às vezes velocidade não é
tudo. Que o diga o Coiote que vem desde 1949 tentando pegar o Papa
Léguas.
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