25/01/2019

O Rádio


O rádio de tempos atrás era muito diferente. Por aqui, na aldeia, a programação local por muito tempo esteve baseada na música e nos apresentadores. Lá pelos anos 70, liam-se cartinhas com pedidos musicais. “Janaína da Baixada oferece a próxima página musical para seu noivo Leopoldo”. Página musical, no caso, era uma canção, uma música. A própria locução era mais solene. Alguns tratavam seus ouvintes de dileto ouvinte. Em alguns horários, as propagandas eram destinadas à dona de casa, pois o homem saia para trabalhar e o rádio entretinha a mulher, responsável pelas lides domésticas.
No interior, demorou até a interatividade migrar do papel das cartinhas e dos bilhetes para a linha telefônica. Ocorre que telefone era coisa rara, um produto muito caro suportado somente por empresas e profissionais liberais de reconhecida capacidade financeira. Com o surgimento dos orelhões, telefones públicos alimentados por fichas, a comunicação entre o rádio ouvinte e o apresentador do programa ganhou em dinamicidade. O desafio era reduzir o chiado e tornar a voz do participante um pouco mais audível.

Hoje, com a comunicação em massa, através dos telefones celulares e dos aplicativos instantâneos, as rádios verdadeiramente dão voz ao ouvinte. Por um lado, garantem as emissoras um leque de informações imensurável, na medida em que ouvintes de vários locais distantes podem atualizar em tempo real informações como as condições climáticas, o andamento do trânsito, o mal funcionamento de um serviço público ou mesmo privado, entre outros. As emissoras que tratam de futebol e de amenidades, então, especializaram-se em “ouvir o ouvinte”. Teses e mais teses sobre escalações, preferências por este ou aquele jogador, a corneta do torcedor, o xingamento ao juiz que marcou ou deixou de marcar um pênalti ou outras coisas menos ou mais significativas. Mudo de estação quando o apresentador começa a ler o “recado da galera”.
O rádio, apesar de ter perdido muito em termos de impacto com o surgimento do MP3, do pen drive e dos aplicativos que disponibilizam intermináveis playlists, que possibilitam horas de música sem intervalos comerciais, ainda assim mantém-se como meio mais rápido de informação.
Não só o rádio foi atropelado pelos novos tempos. A comunicação instantânea mudou também a edição do jornal. A notícia bombástica não fica mais esperando pelas rotativas do jornal. Ela é publicada antes pelos sites na internet. Muda a forma de comunicação mudam os meios, mudam os costumes. Com isso, todo o mundo vai se adaptando para continuar no mercado.
Uma das primeiras mudanças é a primazia pela velocidade. Como os sites podem ser atualizados instantaneamente, as notícias são servidas aos poucos, muitas vezes ministradas em pílulas. Acidente em algum lugar do mundo. Não há registros de mortes. Buscas são realizadas pelas autoridades. Aparecem as vítimas. Estimam-se tantos. Imagens do acidente feitas por celular. E assim segue o dia. Cada minuto um novo detalhe. Até que, em dado momento, algum boletim é emitido com a extensão real do problema. Todo o mundo acompanha em tempo real repercutindo nas redes sociais.
O rádio mudou. O jornal mudou. O Mundo mudou nos últimos tempos. Porém, não consta que todas essas mudanças tenham sido acompanhadas de aumento de qualidade. Agora que tudo está mais veloz, mais frenético isto é verdade. Às vezes velocidade não é tudo. Que o diga o Coiote que vem desde 1949 tentando pegar o Papa Léguas.

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