25/04/2012

Tudo passa

As meninas se abraçam, cantam, riem e pulam. A alegre canção de forma mágica as une e as afasta do mundo real. A hora do recreio é a hora da fantasia. Habitam um mundo próprio, onde o riso franco cria uma carapaça que impede a entrada das preocupações cotidianas. Assim seguirão um tempo. Os meninos, de outra banda, medem força daqui e dali. Juntam-se em clubinhos particulares. Correm pra lá e pra cá. Gastam suas energias enquanto não são despertados pelo soar do indefectível sinal emitido pela campainha.
  Chega uma hora, porém, em que os recreios tornam-se menos mágicos. O tempo passa. Para trás vão ficando as ingênuas brincadeiras. As preocupações já são outras. As meninas deixam de cantar. Os meninos param de correr. São outros os seres que andam pelos corredores e pelo pátio da escola.
Tudo passa. Muda o tempo, muda o espaço, mudam os seres. As meninas e os meninos colhidos pela passagem do tempo não se verão mais brincando infantilmente. Alguns deles, anos mais tarde, até esquecerão que viveram dias de infantil alegria. Os que conseguem manter em suas mentes as memórias dos tempos da ingenuidade, no entanto, saboreiam um gostinho de magia.

21/04/2012

O contador de histórias

Arte sobre foto

Faz uns três anos que posto minhas crônicas neste blog, após  a publicação no Jornal Bons Ventos. Já escrevi sobre quase tudo. Já abordei a felicidade, a dor e o sofrimento, o abandono, as paixões futebolísticas, a velhice, a morte e a vida, a beleza, o tempo, o frio. Puxei do fundo da minha fraca memória os anseios que tive enquanto criança, as dúvidas e as descobertas de um adolescente tranquilo que passeava sem pressa e sem medo pelas ruas duma cidade provinciana. Aqui discorri sobre as tramas familiares, as incertezas do mercado, as jogadas da mídia, os meandros da política. Nem sei ao certo se ficou alguma panela que não tenha metido minha colher.  Até o Papai Noel foi malhado por aqui. Aliás, uma das crônicas mais lidas no meu blog é justamente uma que fala sobre a origem deste personagem e a sua ligação com a gigante Coca-Cola. 
Uma das experiências mais intrigantes ocorreu há algum tempo. Enquanto percorria os corredores do supermercado, fui abordado por um perspicaz repositor que perguntou à queima roupa: por que você escreve no jornal? Confesso que fiquei surpreso como quem leva uma rasteira, embasbacado com a apressada indagação que nem lembro a resposta dada. Talvez tenha dito “sei lá, sou amigo do dono!” ou “talvez acreditem que escrevo coisas interessantes” ou, ainda, “quem sabe tenha sido convidado por falta de outra opção melhor!”.

05/04/2012

O medo da morte

O ex-presidente Lula, que passou recentemente por problemas de saúde, tem medo da morte. Disse há alguns dias que se ela estiver em algum lugar na China, ele estará anonimamente em algum lugar da Bolívia. Buscará esconderijos insuspeitos para privar seu corpo da finitude indesejável. Ou seja, deseja guardar bom distanciamento do evento inevitável que colocará fim à sua existência.
Ele não está só. A morte sempre representou para os homens o fim de tudo, o ocaso dos sonhos e das alegrias. A imagem mais difundida que se tem dela é a de uma senhora de cabelos desgrenhados, vestida de longa e larga roupa negra, com capuz cobrindo seu rosto descarnado, carregando em uma das mãos uma ceifa, aguardando pacientemente o exato momento de executar sua colheita.