Arte sobre foto |
Faz uns três anos que posto minhas crônicas neste blog, após a publicação no Jornal Bons Ventos. Já escrevi sobre quase tudo. Já abordei a felicidade, a dor e o sofrimento, o abandono, as paixões futebolísticas, a velhice, a morte e a vida, a beleza, o tempo, o frio. Puxei do fundo da minha fraca memória os anseios que tive enquanto criança, as dúvidas e as descobertas de um adolescente tranquilo que passeava sem pressa e sem medo pelas ruas duma cidade provinciana. Aqui discorri sobre as tramas familiares, as incertezas do mercado, as jogadas da mídia, os meandros da política. Nem sei ao certo se ficou alguma panela que não tenha metido minha colher. Até o Papai Noel foi malhado por aqui. Aliás, uma das crônicas mais lidas no meu blog é justamente uma que fala sobre a origem deste personagem e a sua ligação com a gigante Coca-Cola.
Uma das experiências mais intrigantes ocorreu há algum tempo. Enquanto percorria os corredores do supermercado, fui abordado por um perspicaz repositor que perguntou à queima roupa: por que você escreve no jornal? Confesso que fiquei surpreso como quem leva uma rasteira, embasbacado com a apressada indagação que nem lembro a resposta dada. Talvez tenha dito “sei lá, sou amigo do dono!” ou “talvez acreditem que escrevo coisas interessantes” ou, ainda, “quem sabe tenha sido convidado por falta de outra opção melhor!”.
Por vezes sou abordado por amigos, conhecidos ou desconhecidos, leitores que dizem acompanhar semanalmente minha coluna. Um deles chegou a reproduzir uma frase. Confesso que nem lembrava mais do contexto em que se aplicava a sentença. Um professor disse que eventualmente, quando trabalha a crônica com seus alunos, leva algumas das publicadas aqui e os próprios estudantes escolhem uma delas para realizar um trabalho. “Pobres estudantes!”, pensaria alguém carregando na ironia.
Fui criado no rádio. Muito embora tenha sido um penhasco de timidez, foi na linguagem falada que achei um caminho seguro. As letras chegaram depois. Primeiro foram os minúsculos textos do noticiário de rádio. O mundo todo em cinco notícias de 30 segundos. Haja poder de síntese. Depois, na FACOS, a necessidade de se esticar este texto para 20 ou 30 linhas. Quando estava acostumado com isso veio a experiência no Correio do Povo. E os textos novamente tiveram que minguar. “Diminuir dois parágrafos”, gritava o editor no meio da noite. “Diminua mais um”, dizia no fechamento da edição. Um texto de 60 linhas podado aqui e ali sobrevive em gloriosos dois parágrafos.
Escrevendo aqui e lá, ganhei gosto pela coisa. Gosto que aumenta ainda mais quando vem do outro lado a cumplicidade dos que me leem, como a professora Soraia Abrahão, o advogado Ildo Trespach Monteiro, o professor Fabiano, o Rubinho, o Marcinho e tantos outros que vez por outra se manifestam sobre as histórias contadas aqui.
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