29/08/2013

Mensagem oculta

Você senta confortavelmente diante do computador. Busca uma ideia para desenvolver um texto. Em busca de inspiração, abre os sites de notícias. As manchetes, no entanto, parecem ser as mesmas de ontem e de anteontem: frio e neve na Serra, tempo que melhora, sol que volta, dias sem chuvas, dólar que dispara, time desfalcado etc e tal. Sem aviso prévio, o copinho de café, fumegante, cai no seu colo. Suas calças ficam quentes. O chão em sua frente fica melequento. “É um sinal”, talvez seja a reação mais natural. Sinal do quê?

20/08/2013

A teoria e a prática

A teoria na prática é diferente, dizem alguns. Porém, sabemos que teoria e prática são coisas distintas, bem delineadas. O conhecimento prévio, acadêmico, é a teoria. A prática é a ação livre, embasada em uma teoria ou não. Sem medo de ser redundante (e sendo) poderíamos dizer que teoria é teoria e prática é prática. O ideal é que a teoria sirva de inspiração para a vida prática. 
Na vida cotidiana, no entanto, isto é o que menos acontece. 
É verdade que devemos falar com a mais completa honestidade sobre as coisas. Li em uma boa obra que ao falar devemos transmitir mensagens efetivas. Ou seja, ao dizer bom-dia a alguém devemos flexionar nossa voz impulsionada pelo sentimento que vem de nosso íntimo ser. Assim, a nossa saudação impulsionará energias de tal forma que a pessoa sinta que realmente queremos que ela e nós tenhamos um dia venturoso. 
Intuitivamente, no entanto, antes mesmo de contar com este conhecimento teórico, já exercitava por estas instâncias a busca pela efetividade da mensagem. Houve um dia em que entrava num prédio e, talvez impulsionado pelo sol brilhante que me acompanhava desde a minha casa, me dirigi a uma pessoa conhecida de longa data. “Olá, bom dia! Como tem passado? Tudo bem?”.

14/08/2013

A alma do cronista

O que o cronista faz senão falar de si mesmo? Às vezes até fala dos problemas da sua cidade, do seu time (que perde quando não devia e que vence quando não se espera), do trânsito, dos costumes, da política, da filosofia e do tempo, que passa e não volta mais. Porém, mesmo que busque certo distanciamento do seu umbigo, logo ali na frente ele se trai. São seus olhos, seus sentimentos, sua inspiração, sua experiência sobre as questões que vão delimitando os temas. O cronista, por mais voltas que dê, sem perceber, está sempre mostrando a sua cara. Não há como negar: escondida entre tantas palavras, a alma do cronista vai se revelando em seus textos. O que para muitos é uma coisa natural, para outros tantos é um pesadelo, quase um parto normal sem anestesia.
A exposição é um empecilho.  Quem escreve fala de si, de seu mundo. Mostra o que sua vista enxerga. E, como todos no universo são partículas individuais, corre-se o risco de que não haja reciprocidade do lado de lá. O leitor pode desconhecer o que leu. Pode ignorar o esforço do escritor. E isso, de certa forma, pode espantar um pouco.

07/08/2013

A fala

A retórica era de suma importância
para gregos e romanos 
A manifestação mais singular do gênero humano é a fala. Não se conhece outro ser que articule as palavras livremente como o homem. Alguns animais, como os papagaios, por exemplo, podem até articular sons. Porém, há um longo adestramento para que a ave possa repetir uma ou duas palavras. Não importa a situação, o louro vai dizer sempre a mesma coisa. Se for treinado pelo seu dono para dizer “viva o Grêmio”, ele seguirá dizendo a mesma coisa eternamente, na vitória ou na derrota. Mesmo que o torcedor tricolor morra e a família inteira torça pelo colorado.
Já entre os humanos a coisa muda de figura. Começamos com a simples e prosaica mama, depois, sem muita pressa, vamos acrescentando papa, mana e assim por diante. Quando nos damos por conta já estamos falando otorrinolaringologista, sem pestanejar.  Isto ocorre porque as experiências do dia a dia, as leituras da madrugada, o amplo acesso às informações, as dores, os sofrimentos, as alegrias, as vitórias e os fracassos vão engrossando o caldo e ampliando cada vez mais o repertório de cada um. Com o tempo o humano passa do simples ao complexo.