29/11/2013

Outros tempos

Vez por outra algum amigo manda um e-mail onde se destacam as principais diferenças entre os tempos de hoje e os da nossa infância. Obviamente que, descontado o sentimento de nostalgia, que mais dia menos dia há de atingir a todos, indistintamente, muito do que se viveu não encontra nem encontrará correspondência nestes novos tempos. Não se trata de serem melhores ou piores, os dias de ontem não se repetirão jamais.
A começar pelas brincadeiras. Carrinhos de rolimã, arapucas mal ajeitadas, que empurrados morro abaixo deixavam como saldo muita emoção, unhas quebradas, calcanhares e mãos sangrando pelo atrito com a pista. Fundas ou bodoques feitos a partir da forquilha de goiabeira. Mal amarrados se transformavam em arma contra o próprio lançador.

21/11/2013

O arcaico e o novo

Neanderthal
No futebol ou numa luta, quando o indivíduo não está emocionalmente envolvido, é comum que torça pelo mais fraco. Faz parte do homem este sentimento de solidariedade, de engajamento, de compaixão para com o menos provido. Mesmo que, lá no final, o mais forte arrebate o troféu, desfilando no ringue sua superioridade, é sempre relevante o apoio dado a quem pouco dispõe. Não importa que dê a lógica, que tenha vencido o melhor, o mais preparado. Isto é de menos. Como diz o gaúcho, importa a chuleada. Se os fluidos enviados ao fracote não tenham gerado o efeito desejado, paciência.  
Faz bem à alma esta cumplicidade com aquele que está numa condição de inferioridade. Isso explica a sobrevivência num cenário improvável (onde tamanho é documento) equipes como a Portuguesa de Desportos e o São José, o Zequinha. São só dois exemplos entre tantos que os times que jogam insistentemente por anos a fio sem troféus e com parcas esperanças entre seus adeptos. Em suas paridas, em regra, estão presentes testemunhas e não torcedores.

14/11/2013

Os desbravadores

Nossos antepassados  guiavam-se pela posição do sol, da lua e das estrelas. Os antigos usavam a primitiva bússola. O mundo todo foi explorado na base da observação e do conhecimento empírico. Em alguns casos, um vendaval que mudava a embarcação de rumo, um erro de cálculo ou a intuição de alguém, foram determinantes para uma descoberta de valor. Claro que, da mesma forma, muitos se aventuraram e não tiveram sucesso. Se embrenharam em florestas e por elas foram engolidos. Não retornaram para contar histórias de povos perdidos, de rios que mal cobriam pepitas de ouro, de monumentos dourados ou de civilizações desconhecidas.
Nossotros, como diriam os espanhóis, ao chegarmos aqui, nestes tempos que transcorrem, encontramos a Terra mapeada. Os rios, os mares, as cadeias de montanhas, os vales e todos os outros acidentes geográficos plenamente conhecidos, nominados e retratados em mapas detalhados. Com legendas coloridas e uma rosa dos ventos a indicar os pontos cardeais. Tudo construído a partir da impetuosidade, da curiosidade e da perspicácia dos pioneiros que, enfrentando a falta de conhecimento, se lançaram na missão de descobrir o que havia além do seu campo de visão.

05/11/2013

Dia Santo

Nosso campo era diminuto. Para nós, no entanto, era um local mágico. A grama era verde como estas dos melhores estádios do país. Exagero meu. Hoje, pensando bem, acho que não era tanto assim. Mas, para os olhos de meninos que fomos um dia, aquele verde era verdadeiramente um espetáculo. Tudo era um espetáculo grandioso. Cada joguinho, cada jogada. Tardes e tardes a fio, sem muitos intervalos. No máximo alguns minutos para o consumo de um copo de água quente, retirada de um suspeito poço. Geladeiras aquela turma não dispunha. Água tratada também não havia chegado à periferia.
Mas, tínhamos um campo. Cedido provisoriamente por alguém que não tinha ainda o apetite de construir. E isso, pelo menos naqueles tempos, era o que bastava.