Conta
a lenda que, no ano de 490 a.C, soldados gregos marchavam até a
planície de Marathónas para lutar contra o exército persa. O
comandante grego notou, porém, que seu exército era diminuto e se
continuasse marchando seria facilmente derrotado pelos adversários.
Sabiamente,
estacionou sua tropa e escolheu o soldado mais veloz de todos
(Pheidippedes) para que corresse os 40 km que os separavam de Atenas.
Lá deveria arregimentar mais homens para se juntar ao exército. E
assim foi feito.
Em
pouquíssimo tempo, o soldado corredor retornou marchando com mais 10
mil homens. Com as fileiras encorpadas, os gregos venceram a batalha.
Satisfeito, o comandante deu nova ordem a Pheidippedes (que deve ter
pensado naquele momento: “o homem não larga do meu pé!”).
Deveria retornar os 40 quilômetros e informar a todo o povo que os
gregos haviam vencido. Obediente como cabe a um soldado, mesmo
enfrentando a fadiga da guerra, da falta de sono, de alimento, voltou
até a cidade. Ao chegar, extenuado ao extremo, juntou o pouco de
forças que lhe restavam e pode somente dizer uma palavra, antes de
cair morto: “vencemos”.
Esta
lenda, que, segundo se diz, deu origem à maratona, que mais tarde
foi encorpada com outros jogos viris e resultou nos Jogos Olímpicos
Gregos, sucedidos depois pelas Olimpíadas, bem exemplifica o modo
como a informação era repassada nos tempos mais remotos. Ainda não
havia sido descoberta a imprensa, e a transmissão da informação
era feita de forma oral. Eram, portanto, indispensáveis, pulmões e
pernas fortes o suficiente para cobrir grandes distâncias.
Hoje
não é necessário correr 40 quilômetros para anunciar o resultado
de uma batalha. Em questão de segundos, o mundo é informado de
tudo. Um negócio fechado na bolsa de valores agora estará
disponível a todos os conectados num piscar de olhos.Aliás,
enquanto piscamos os olhos são gerados milhões de novos conteúdos,
distribuídos em todo o mundo pelas redes sociais. Boa parte é
material insignificante, imprestável, sem qualquer valor. Porém, em
algum lugar haverá alguém ávido por novidade que compartilhará e
distribuirá o lixo com tantos outros ansiosos por novidades.
O
fenômeno da instantaneidade é isto. As informações trilham o
mundo todo, sem fronteiras, sem amarras, sem compromisso. E isto tem
um preço. Há quem diga que nos dias de hoje o que mais se faz é
reproduzir. O internauta reproduz o que os outros reproduziram e
assim vai. Os interesses que guiaram os produtores do conteúdo
(zoação, agressão gratuita, inconsequência, ódios, preconceitos,
falta do que fazer) ficam perdidos na aparente impessoalidade.
Ignorante seria o cronista se,
por acaso, não reconhecesse que em tudo há no mínimo dois lados. E
realmente há. Hoje seria praticamente impossível viver sem os
aplicativos virtuais que facilitam a vida real. Ganhou-se
dinamicidade. Porém, ganhou-se, de igual sorte, muita ansiedade.
Quantas pessoas não desenvolveram o hábito de fotografar tudo o que
lhes cabe neste latifúndio?
O
carro, a casa, os cães, as flores do pátio, as frutas no mercado, o
prato no restaurante, a porta do banheiro, o detalhe de uma pintura,
o cabelo recém cortado, as unhas pintadas há pouco, a roupa ainda
no provador, o cesto de roupas sujas, a máquina de lavar em ação,
Maria estendendo a roupa no varal, a panela de feijão fervendo, a
chaleira no fogo e a cuia recebendo o jato de água. E quantos destes
ansiosos gastam seu tempo postando estes pequenos detalhes, às vezes
poeticamente belos, muitas das vezes insignificantes, como se fossem
realmente algo indispensável à nação?
Há
uma tese nova que revela que este gasto de energia com o mundo
virtual vai interferindo lentamente no rendimento do indivíduo. Esta
imersão no mundo virtual vai, aos poucos, segundo alguns estudiosos,
diminuindo a percepção e a interatividade do indivíduo no mundo
real. Ou seja, a energia é a mesma. Cabe escolher onde deve ser
aplicada. Muito foco para um lado, menos para outro. E os segundos
correm, os minutos passam e as horas marcham. E o indivíduo preso,
olhando para o minúsculo aparelho na palma de sua mão. O mundo está
ali. Tudo está ali. O resto é lenda. E as lendas também não são
reais.
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