Crescemos pensando no futuro.
Projetamos coisas para os dias que virão. Trabalhamos hoje com o
olhar voltado para a aposentadoria no dia de amanhã. Se possível,
guardamos um pouquinho na poupança para uma eventualidade qualquer.
Previdência sempre foi uma expressão na moda. Até hoje.
Os dias de hoje, no entanto,
revelam-se muito diferentes dos de ontem. As gerações que recém
botaram os pés neste chão encontraram outros tempos. Outras normas,
outros recursos, outras vivências. Não basta o projeto futuro.
Importa o hoje. O prazer de agora. O futuro não está em pauta.
Ninguém precisa de estabilidade. Precisa, isto sim, ostentar um hoje
brilhante e mutante. Instável, mas prazeroso. A estabilidade não
apresenta novidades. A rotina cansa.
É o fim do futuro, apregoa Zygmund
Bauman, sociólogo polonês, que estuda o comportamento da humanidade
nestes novos tempos. Tempos estes onde a pressa é a marca mais
expressiva. Onde os relacionamentos transformaram-se em meras
conexões, que podem ser modificadas com um só movimento no mouse.
Tudo rápido, sem traumas e pretensamente sem dores. Novas
possibilidades, novas posturas, novos desafios. Respostas rápidas,
instantâneas, sem enrolação, sem gastos de energia.
Na realidade, novas e antigas
gerações perseguem a mesma coisa. A felicidade é o que querem.
Porém, onde ela se encontra? Num relacionamento duradouro, onde
duas pessoas começam uma história, persistem na caminhada, superam
os desafios, atravessam as rotinas e os desgastes da proximidade,
assistem ao envelhecimento dos corpos e ao aparecimento das
limitações? Ou numa relação rápida, onde não há muito
investimento, onde importa o prazer do momento, onde a porta está
sempre aberta para outras possibilidades, onde o hoje amanhã já é
velho e superado?
A realidade nos ensina que, apesar
dos desatinos momentâneos, dos desacertos e dos desencantos, o homem
é um construtor. Aos poucos vai se adaptando, vai se modificando. É
capaz de dar passos desafiadores para frente e, depois, diante das
consequências, retroceder na sua marcha. Assim vem sendo a caminhada
do homem na Terra. Pelo menos até os dias de hoje!
É certo, da mesma forma, que as
mudanças comportamentais são enormes. Que as facilidades da era
tecnológica mudaram completamente a forma de vida de tal modo que
hoje não entendemos muito bem como sobrevivemos sem meios de
comunicação tão eficientes como a internet, os celulares e as
transmissões por satélite. A instantaneidade virou necessidade.
Esperar virou sinônimo de desperdício. O passado foi sendo
soterrado lentamente. O velho perdeu valor. Sobrevive só na
nostalgia.
A pressa impõe a necessidade da
rotatividade. O ciclo vai ficando cada vez menor. O novo de hoje
amanhã não fará o menor sentido. A música de agora não será
lembrada amanhã, quando vai ser substituída na programação da
rádio por uma infantilidade qualquer balbuciada por um menino cheio
de adereços, de brincos, de correntes de ouro, de tênis, camiseta e
bermuda de uma marca da moda. No clipe da tevê aparecerá num carro
de 300 ou 400 mil dólares, rodeado de moças que dançam
provocativamente. Ele, o pretenso cantor, mostrará nos olhos um
misto de prazer e de enfaro. No YouTube o vídeo receberá da noite
para o dia um milhão de acessos.
O futuro a Deus pertence dizia minha
mãe. Naqueles tempos era pecado pensar diferente disso. Porém, hoje
sabemos que estamos, todos nós velhos e jovens, construindo o futuro
da humanidade. Como ele será? É impossível saber! Não
desenvolvemos ainda a divina faculdade de conhecer o resultado de
nossas ações nos dias que virão. Nem ao menos algum nerd do Vale
do Silício criou algum programa capaz de revelá-lo.
Por enquanto, aguardemos!
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