13/02/2014

O fim do futuro

Crescemos pensando no futuro. Projetamos coisas para os dias que virão. Trabalhamos hoje com o olhar voltado para a aposentadoria no dia de amanhã. Se possível, guardamos um pouquinho na poupança para uma eventualidade qualquer. Previdência sempre foi uma expressão na moda. Até hoje.
Os dias de hoje, no entanto, revelam-se muito diferentes dos de ontem. As gerações que recém botaram os pés neste chão encontraram outros tempos. Outras normas, outros recursos, outras vivências. Não basta o projeto futuro. Importa o hoje. O prazer de agora. O futuro não está em pauta. Ninguém precisa de estabilidade. Precisa, isto sim, ostentar um hoje brilhante e mutante. Instável, mas prazeroso. A estabilidade não apresenta novidades. A rotina cansa.
É o fim do futuro, apregoa Zygmund Bauman, sociólogo polonês, que estuda o comportamento da humanidade nestes novos tempos. Tempos estes onde a pressa é a marca mais expressiva. Onde os relacionamentos transformaram-se em meras conexões, que podem ser modificadas com um só movimento no mouse. Tudo rápido, sem traumas e pretensamente sem dores. Novas possibilidades, novas posturas, novos desafios. Respostas rápidas, instantâneas, sem enrolação, sem gastos de energia.
Na realidade, novas e antigas gerações perseguem a mesma coisa. A felicidade é o que querem. Porém, onde ela se encontra? Num relacionamento duradouro, onde duas pessoas começam uma história, persistem na caminhada, superam os desafios, atravessam as rotinas e os desgastes da proximidade, assistem ao envelhecimento dos corpos e ao aparecimento das limitações? Ou numa relação rápida, onde não há muito investimento, onde importa o prazer do momento, onde a porta está sempre aberta para outras possibilidades, onde o hoje amanhã já é velho e superado?
A realidade nos ensina que, apesar dos desatinos momentâneos, dos desacertos e dos desencantos, o homem é um construtor. Aos poucos vai se adaptando, vai se modificando. É capaz de dar passos desafiadores para frente e, depois, diante das consequências, retroceder na sua marcha. Assim vem sendo a caminhada do homem na Terra. Pelo menos até os dias de hoje!
É certo, da mesma forma, que as mudanças comportamentais são enormes. Que as facilidades da era tecnológica mudaram completamente a forma de vida de tal modo que hoje não entendemos muito bem como sobrevivemos sem meios de comunicação tão eficientes como a internet, os celulares e as transmissões por satélite. A instantaneidade virou necessidade. Esperar virou sinônimo de desperdício. O passado foi sendo soterrado lentamente. O velho perdeu valor. Sobrevive só na nostalgia.
A pressa impõe a necessidade da rotatividade. O ciclo vai ficando cada vez menor. O novo de hoje amanhã não fará o menor sentido. A música de agora não será lembrada amanhã, quando vai ser substituída na programação da rádio por uma infantilidade qualquer balbuciada por um menino cheio de adereços, de brincos, de correntes de ouro, de tênis, camiseta e bermuda de uma marca da moda. No clipe da tevê aparecerá num carro de 300 ou 400 mil dólares, rodeado de moças que dançam provocativamente. Ele, o pretenso cantor, mostrará nos olhos um misto de prazer e de enfaro. No YouTube o vídeo receberá da noite para o dia um milhão de acessos.
O futuro a Deus pertence dizia minha mãe. Naqueles tempos era pecado pensar diferente disso. Porém, hoje sabemos que estamos, todos nós velhos e jovens, construindo o futuro da humanidade. Como ele será? É impossível saber! Não desenvolvemos ainda a divina faculdade de conhecer o resultado de nossas ações nos dias que virão. Nem ao menos algum nerd do Vale do Silício criou algum programa capaz de revelá-lo.

Por enquanto, aguardemos!  

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