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Opinar é
bom. É necessário. É fundamental, especialmente no processo
democrático. Opinar sempre, independentemente do assunto torna-se
cansativo. Perde a graça. Causa incômodo.
Nos dias
de hoje, vive-se o império da manifestação. Nas redes sociais,
então, não há limites. Compartilhe algo e chove manifestações
questionando quais seriam as tuas intenções, criticando por isso e
por aquilo. Se alguma ação do governo local é curtida, em segundos
os guerrilheiros do outro lado crivam de comentários negativos.
Ressalte qualquer aspecto da vida nacional e os críticos de plantão
vão derrubar seus barris de ódio ao PT, à Dilma, ao Tarso e a
qualquer um que possa ser criticado, mesmo que não tenha nada a ver
com a história.
Está
ocorrendo na internet aquilo que nós gaúchos estamos carecas de
conhecer: a regionalização. Se alguém comenta uma vitória de seu
time, algo banal, comum, corriqueiro e, muitas vezes despretensioso,
acaba mexendo com uma galera radical que não sabe levar na
esportiva. Alguns mostram os dentes ameaçadoramente, destilando ódio
por todos os poros, babando pelos cantos da boca como os lobos
enfurecidos. Homofobia, racismo, xingamentos diversos, expressões
chulas, tudo sem muita medida, coisas desnecessárias poluindo aquilo
que deveria ser uma ferramenta de diversão, de entretenimento, um
reles passatempo.
Este
sentimento vem saindo para a rua. O futebol, que era envolvido num
clima gosto de flauta, de brincadeira, virou um território onde há
espaço para matança, para a destruição do adversário. Aliás,
adversário virou inimigo. A ordem agora é precisamos vencer, temos
que vencer e, mais do que isso, temos que eliminar o outro. Arrancar
sua camisa como troféu e destruí-lo. Mesmo que o moleque seja um
bom menino, um estudante de futuro. Mesmo que seus pais, que o amam,
chorem a perda e não se conformem nunca. Mesmo que seus colegas e
amigos façam passeatas pedindo justiça. É preciso eliminá-lo.
No
passado, o Campeonato Gaúcho tinha invariavelmente quatro Grenais.
Dois na primeira fase e dois jogos para decidir a competição.
Começava o Brasileirão e ocorriam mais dois. Era Gre-nal demais.
Muita adrenalina. Muita tensão. O que vem acontecendo nas redes
sociais é que o sentimento decisivo do jogo parece estar presente a
cada postagem. É muita discussão, muita quizília.
A
impressão que tenho é que há pessoas que vivem espreitando as
redes sociais. Ocupação: dar pitaco em tudo e em todos.
Como já
não tenho paciência para tanta discussão, tomei a decisão de não
mais acessar rede social nos dias de jogos, sejam eles do Gauchão ou
da Libertadores. Como há jogos quase todos os dias, de algum modo
estou me desligando da rede. Cheguei à conclusão de que opinião
demais pode ser cansativo. Excessos na democracia também não são
bem-vindos.
E
excessos é o que não falta. Que o digam os defensores dos cães,
dos gatos, das ciclovias, dos governos, das oposições, das
depredações “pacíficas”, da natureza, do materialismo, da
religiosidade, do ateísmo, disso, daquilo e daquele outro.
Um
querido amigo, de forma pacífica, ingênua e tranquila, dia desses,
externou uma opinião. Horas mais tarde quando acessou novamente a
rede constatou que havia uma centena de comentários ensandecidos.
Levou um susto. Não sabia que atingiria tanta gente, tantos
interesses com um comentário comum. Tinha mexido num vespeiro e nem
sabia.
Este
sentimento bélico, de quem patrulha tudo, de quem quer impor seu
ponto de vista de forma desrespeitosa vai, de algum forma, destruindo
a estrutura de forma que não foi prevista pelos seus criadores.
Coisas
destes tempos em que se perde o amigo virtual , mas não se perde a
oportunidade de dar um pitaco.
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