A história seria diferente se
quem a contasse fossem os leões e não os caçadores de leões, diz um sábio
ditado africano. Se os escravos africanos, capturados em suas tribos e levados
à força mundo afora para construir riquezas, fossem os historiadores de seu
tempo, certamente os livros seriam romances recheados de cenas de terror, de
dor e de medo, tal a agressividade reinante nesta relação entre os
colonizadores e os bichos-homens da África. Os negros africanos, segundo
religiosos europeus e boa parte da elite pensante, eram animais brutos. Não
tinham alma. Assim, a escravidão era uma benção, pois colocava a fera em
contato com a cultura de homens civilizados, sábios, conhecedores da vida, da
justiça e tementes a Deus.
Mesmo
nos tempos atuais, quando sondas ultra-avançadas vasculham o universo em busca
de planetas que possam abrigar a vida humana, prevendo de algum modo que a
humanidade conseguirá esgotar todos os recursos da Terra, algum ranço histórico
vem passando de pai para filho quando se fala de história. Os colonizadores
europeus sabe-se se inscrevem como salvadores da pátria. É verdade que
desbravaram os oceanos atrás de terra e riquezas aumentando o tamanho do mundo.
Porém,
como tudo na vida tem mais de um enfoque, não podemos desconhecer que estas
descobertas trouxeram uma série de transformações, algumas delas nefastas, como
o extermínio da população indígena e a escravidão dos africanos para servir de
mão de obra barata.
Recentemente,
pesquisadores do Centro de Pesquisas Sociais de Coimbra, Portugal, analisaram
com profundidade os principais livros de história daquele país, notadamente no
capítulo sobre escravidão. A conclusão que chegaram é que, ainda hoje, perdura
naquele país a visão romântica do colonizador. A visão que os jovens têm é a de
que a escravidão e rim processo amigável. Os textos históricos portugueses
levam a crer que os negros escravizados eram convidados a emigrar para outro
continente. Nenhuma palavra sobre perseguições, sobre correntes e uso de força.
A
pesquisa coordenada pela portuguesa Marta Araújo destaca, ainda, que os historiadores de sua terra são condescendentes
com os colonizadores pátrios, mas criticam a violência dos espanhóis,
franceses, britânicos e belgas.
Por
falar nisso, alguma curiosidade me ocorre ao lembrar que este período que
atravessa nosso país será tema de pesquisas e, posteriormente, será tratado nas
aulas de história para uma geração que nem nasceu ainda. Nomes como Michel
Temer, Aécio Neves, e Eduardo Cunha estarão gravados ali. Ministros do STF,
juízes e promotores também vão aparecer. E Lula não faltará, com certeza. Creio
que nem o melhor dos adivinhos consiga prever quais as tintas comporão este
histórico quadro.
Uma
coisa é certa: não será fácil entender este enrosco que envolve cumplicidades,
traições, interesses, fraudes, delações, diz-que-me-diz, enriquecimentos
ilícitos e todo o tipo de situações. O
historiador terá que ser um leão para encarar a luta.
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