26/07/2017

A Liberdade de Escolha

 Os soldados derrotados nas batalhas tornavam-se escravos dos vencedores. A força da vitória impunha a submissão. Os vencidos alienavam suas crenças, seus bens, suas vidas. Tornavam-se sombras daquilo que foram um dia. Perdiam a voz. Perdiam a liberdade. Perdiam tudo.  Alternativas não existiam. A lei era essa. O jeito era vencer as batalhas e subjugar o outro.  No caso de insucesso, muitos guerreiros preferiam a morte no campo de batalhas. A morte assegurava alguma dignidade. A escravidão nenhuma.
 Naqueles tempos primitivos, onde a vida se resumia a meia dúzia de convenções, tudo era muito simples. A submissão de um derrotado era algo justo, certo e incontestável. Não sobravam dramas de consciência e nem lamuriações quanto à injustiça da medida. Os deuses assim queriam e pronto. Não se falava mais nisso porque ninguém era louco em afrontar os deuses da guerra.
 Com o tempo, as ideias foram se modificando. Muito tempo depois, é verdade, a escravidão do guerreiro derrotado começou a não fazer mais sentido. Os derrotados que admitissem a fraqueza, recuando suas linhas, balançando uma bandeira branca e voltando para casa para curar suas feridas, enterrar seus mortos e fazer novos planos estratégicos que os levariam a uma vitória ou a uma nova derrota. Os deuses talvez tenham encontrado outras coisas mais sedutoras para fazer do que ficar guerreando entre si. Num certo momento, a liberdade passou a ser o bem mais precioso do homem.
Num certo momento, a liberdade passou a ser o bem mais precioso do homem. Porém, havia um problema. Um só não. Um monte de problemas em relação à liberdade e às formas de gozá-la. Por mais que o mundo avance, por mais que prepondere o culto à liberdade, resta nos homens que pensam um forte sentimento de que a liberdade é uma daquelas belas ideias que quando perseguidas vão avançando e se distanciando de quem a persegue.
 Sabe-se, por exemplo, que a liberdade jamais será absoluta. Ninguém pode fazer tudo aquilo que se arvorar de direito porque a sociedade tem suas regras e há alguns limites estabelecidos (éticos, morais, legais) que devem ser (ou pelo menos deveriam ser) observados. É certo ao menos, que fisicamente somos livres. Aí surgem alguns embaraços. O grupos sociais, escola, religião, governos de toda a ordem e outras organizações formais ou informais, muitas vezes forjam regras baseadas em valores nem sempre muito saudáveis à expressão da liberdade dos indivíduos, buscando uma unificação de condutas.
 Dia desses, mudando de canais aleatoriamente, passei por um documentário brasileiro mostrando o terror que os militares do Rio de Janeiro e são Paulo impunham a homossexuais no começo dos anos 80. Eram tratados como bichos. Jovens entrevistados pela tevê diziam que os policiais estavam certos e que “aquela gente” não merecia respeito. Um rapaz chegou a dizer que poderiam ser mortos que não faria nenhuma diferença.

 Em princípio, fiquei assustado. Mas, pensando bem, tem até candidato à presidência da república que tem o topete de sustentar um discurso assim tão cheio de ódio. E, o que é pior, vem recebendo apoio de muitas pessoas de bem. A idiotia tem liberdade absoluta. Às vezes ela se veste com roupas que fazem bem aos olhos, discursa com as palavras que o indivíduo gostaria de dizer, mas não tem coragem, faz gestos fortes e decididos para mostrar hombridade. Pura encenação. Aprendi com o tempo que o processo político pátrio é um circo sem lona.  A mentira é a norma.  E o eleitor é “livre” para escolher quem vai enganá-lo.

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