Os soldados derrotados nas
batalhas tornavam-se escravos dos vencedores. A força da vitória impunha a
submissão. Os vencidos alienavam suas crenças, seus bens, suas vidas.
Tornavam-se sombras daquilo que foram um dia. Perdiam a voz. Perdiam a
liberdade. Perdiam tudo. Alternativas
não existiam. A lei era essa. O jeito era vencer as batalhas e subjugar o
outro. No caso de insucesso, muitos
guerreiros preferiam a morte no campo de batalhas. A morte assegurava alguma
dignidade. A escravidão nenhuma.
Naqueles
tempos primitivos, onde a vida se resumia a meia dúzia de convenções, tudo era
muito simples. A submissão de um derrotado era algo justo, certo e
incontestável. Não sobravam dramas de consciência e nem lamuriações quanto à
injustiça da medida. Os deuses assim queriam e pronto. Não se falava mais nisso
porque ninguém era louco em afrontar os deuses da guerra.
Com
o tempo, as ideias foram se modificando. Muito tempo depois, é verdade, a
escravidão do guerreiro derrotado começou a não fazer mais sentido. Os
derrotados que admitissem a fraqueza, recuando suas linhas, balançando uma
bandeira branca e voltando para casa para curar suas feridas, enterrar seus
mortos e fazer novos planos estratégicos que os levariam a uma vitória ou a uma
nova derrota. Os deuses talvez tenham encontrado outras coisas mais sedutoras
para fazer do que ficar guerreando entre si. Num certo momento, a liberdade
passou a ser o bem mais precioso do homem.
Num
certo momento, a liberdade passou a ser o bem mais precioso do homem. Porém,
havia um problema. Um só não. Um monte de problemas em relação à liberdade e às
formas de gozá-la. Por mais que o mundo avance, por mais que prepondere o culto
à liberdade, resta nos homens que pensam um forte sentimento de que a liberdade
é uma daquelas belas ideias que quando perseguidas vão avançando e se
distanciando de quem a persegue.
Sabe-se,
por exemplo, que a liberdade jamais será absoluta. Ninguém pode fazer tudo aquilo
que se arvorar de direito porque a sociedade tem suas regras e há alguns
limites estabelecidos (éticos, morais, legais) que devem ser (ou pelo menos
deveriam ser) observados. É certo ao menos, que fisicamente somos livres. Aí
surgem alguns embaraços. O grupos sociais, escola, religião, governos de toda a
ordem e outras organizações formais ou informais, muitas vezes forjam regras
baseadas em valores nem sempre muito saudáveis à expressão da liberdade dos
indivíduos, buscando uma unificação de condutas.
Dia
desses, mudando de canais aleatoriamente, passei por um documentário brasileiro
mostrando o terror que os militares do Rio de Janeiro e são Paulo impunham a
homossexuais no começo dos anos 80. Eram tratados como bichos. Jovens
entrevistados pela tevê diziam que os policiais estavam certos e que “aquela
gente” não merecia respeito. Um rapaz chegou a dizer que poderiam ser mortos
que não faria nenhuma diferença.
Em
princípio, fiquei assustado. Mas, pensando bem, tem até candidato à presidência
da república que tem o topete de sustentar um discurso assim tão cheio de ódio.
E, o que é pior, vem recebendo apoio de muitas pessoas de bem. A idiotia tem
liberdade absoluta. Às vezes ela se veste com roupas que fazem bem aos olhos,
discursa com as palavras que o indivíduo gostaria de dizer, mas não tem coragem,
faz gestos fortes e decididos para mostrar hombridade. Pura encenação. Aprendi
com o tempo que o processo político pátrio é um circo sem lona. A mentira é a norma. E o eleitor é “livre” para escolher quem vai
enganá-lo.
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