18/11/2021

Os Preços

 

A realidade do dia a dia vivida pelo brasileiro nem sempre é aquela que aparece nos jornais televisivos e nas emissoras de rádios. Principalmente nos órgãos dirigidos por bispos e pastores, notadamente aliados com quem manda no boteco. Para estes, o país nunca esteve tão bem.

A verdadeira face, no entanto, está mais perto do que se imagina. Nos diálogos insuspeitos envolvendo gente simples, despreocupadas em externar opiniões e experiências, muito do que se vive nos atuais dias vem à tona. Sem muitos trejeitos e floreios.

Gente do céu. Não sei como alguém que ganha salário-mínimo, com família, consegue viver nos dias de hoje”, disse a repositora de produtos no supermercado. Conversava com uma colega sua, uma promotora, que revelou, em voz baixa, que escondeu seu carro embaixo de uma lona, pois o preço dos combustíveis está proibitivo. Conversa vai conversa vem, ambas lamentaram que votaram nele. “Uma decepção. Não faz nada para o pobre”. “Olha o preço da carne… Que loucura. Não sei aonde isso vai parar!”.

As duas eleitoras arrependidas encontram-se agora sem esperanças. Não sabem o que fazer. E ano que vem tem eleições novamente. “Fazer o quê? Ninguém vai resolver, mesmo!', diz uma delas enquanto coloca mais produtos na gôndola do mercado.

A cena, vivenciada esta semana, talvez se repita em muitos mercados no país afora. A situação é a mesma. Preços exorbitantes. Inflação comendo os salários de quem ainda tem. Desemprego para dar e vender. Chefia falando abobrinhas, até mesmo mentindo descaradamente em rede nacional. Até os robôs do Facebook e do Instagram, frios como pedras, já chiaram. Aprenderam a indignação. Até para eles foi demais ligar o uso da vacina contra a COVID-19 à possibilidade de contaminação pela AIDS. “Censura”, deve ter gritado alguém, do alto de sua ignorância mitológica, achando que o direito à livre expressão abarca a difusão de informações falsas e de ilações preconceituosas.

E segue o baile. Apavorante silêncio. Resmungos e nada mais. Nem parece que o mesmo país que foi abaixo por causa de 0,20 a mais na passagem de ônibus tempos atrás. O papo está bom, mas, com licença: tenho que passar ali na Farmácia São João, onde só tem gente bonita e magra, “afinal, vamos escolher os bonitos porque o preço é o mesmo”.


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