Não é por ausência de filosofias que a humanidade está batendo cabeça há tanto tempo. Claro, para que a coisa fique bem explicada, importante separar a filosofia da religião. Enquanto na filosofia busca-se o conhecimento para a libertação do homem criativo, em vários aspectos a prática religiosa busca o contrário: a supressão da criatividade humana tendo em vista que há alguém maior, que deve ser temido, pois é O Criador e controlador de tudo e de todos. Por isso, em várias culturas a divindade é o que importa. O homem que siga seu caminho tortuoso, imerso em seus lamaçais de pecados, desacertos, desarmonias e culpas, e, mesmo que se iluda com a possibilidade de apresentar uma boa defesa quando dos julgamentos, deve conviver com a certeza de que as sentenças, em regra, são implacáveis.
Mas, não é necessário ser assim. Senão vejamos: a filosofia budista apresenta o caminho que o homem pode empreender para sair do sofrimento, da vida ilusória e atingir a tranquilidade e a plenitude. Já entre os hunas do Hawaii, apregoa-se que cada um de nós carrega dentro de si um deus dormente que pode ser acordado. Cada indivíduo é responsável pela vida que leva, pelo ontem e pelo seu amanhã. Da mesma forma que constrói sua caminhada, o homem pode mudar sua realidade para criar uma realidade mais desejável a partir de seu poder pessoal.
Na mesma linha, o povo tolteca, que viveu no México, na era pré-colombiana, apresenta também sua filosofia espiritual bem simples e, de algum modo, bem objetiva. Segundo Don Miguel Ruiz, em Os Quatro Compromissos, a visão ancestral tolteca para a liberdade pessoal pode ser resumida em quatro pontos específicos: seja impecável com sua palavra, não leve nada para o lado pessoal, não tire conclusões e dê sempre o melhor de si. Simples assim. Como diria um antigo professor universitário missioneiro: vamos arredondar este tijolo. Ou, pelo menos, tentar.
A palavra- Ela não é tão somente um símbolo escrito ou um som. É, isso sim, uma força, um poder, um dom humano. Dependendo de como é usada pode contribuir para a construção da beleza ou para a destruição das coisas. Não faz muito, um homem, com o poder da palavra, cegou milhares de pessoas e implantou o sonho de conquistar o mundo e eliminar aqueles que não tinham a mesma matiz. A superioridade racial, por incrível que pareça, ainda abastece mentes e vive nos discursos de ódio nas redes sociais. Hitler era um homem só. Virou um exército. Uma lenda. Seu discurso, apesar de derrotado pela força das armas, ainda resiste em pleno século XXI. Às vezes, aparece na boca de pessoas que transitam por aí disfarçados de homens de bem.
Pessoal- Não devemos, segundo a sabedoria tolteca, levar as coisas para o lado pessoal. Se assim fizermos estamos referendando o discurso do outro. O veneno das palavras e ações do outro ganham vida e contaminam o indivíduo. O que o outro fala revela mais ele mesmo do que nós. Então, o melhor é não sofrer pelo que os outros dizem ou pensam.
Conclusões- Não tirar conclusões é difícil. É norma a presunção, o julgamento. Com isso, criam-se verdadeiras confusões com debates mentais intermináveis sobre fatos que, muitas vezes, nem ocorreram. Em vez de conclusões, defendem os toltecas, o questionamento, a pergunta, o diálogo. Prático, não é?
O melhor- Fazer o melhor possível, sempre. Porém, importante saber que o melhor que se dá nem sempre é o que outros esperam ou o que a gente precisa. Quantos de nós vive trabalhando num local por anos a fio sem satisfação e sem prazer? O problema da insatisfação vai gerando um relaxamento (na pior acepção) e o indivíduo deixa de fazer com apreço, com vontade e com determinação sua tarefa. Entrega um resultado pífio. Colhe insatisfação. O ideal é fazer o melhor para buscar o contentamento, a satisfação, o prazer pelo resultado, sem esperar a recompensa, pois esta virá, no momento oportuno. Fazer o melhor que se pode deve ser empregado em tudo. No cuidado da saúde, nos pensamentos, na construção de um caminho de virtudes. Não para agradar ao outro, à divindade ou qualquer ser. O objetivo aqui é a felicidade do ser. É honrar a vida e valorizá-la, respeitando a si e ao outro.
Quer algo melhor que isso? Faça do seu modo. Talvez esse seja o melhor jeito de viver a vida.
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