As
guerras vivenciadas pela humanidade não nasceram tão somente da
ação firme dos braços dos guerreiros. Mesmo que o resultado
visível sempre tenha sido seja a imposição de sofrimento ao outro,
antes disso acontecer houve uma série de atos preparatórios até
que fossem empunhadas as espadas, as lanças e os canhões e outras
armas letais.
Os
sangrentos combates foram gerados inicialmente a partir do pensamento
de alguém. Um líder, um guru, um general ou mesmo um louco. Um
pesadelo, uma noite mal dormida, um sentimento de insegurança, de
medo ou até mesmo de superioridade talvez fossem motivos suficientes
para impulsionar os jogos de guerra. Na linha de frente, alguns dos
guerreiros antigos bem se achavam dignos representantes de seus
deuses e tinham a obrigação de eliminar os deuses que protegiam os
outros. Como se sabe, os deuses antigos adoravam uma contenda.
Antes de ferir e aniquilar o inimigo ou entregar-se à morte com
dignidade, alguém interpretou os sinais e foi levado a concluir que
a guerra era o melhor remédio para mal que se apresentava.
Felizmente,
estas guerras declaradas existem tão somente em alguns poucos
lugares do planeta, nos dias atuais. Porém, há movimentos
guerrilheiros em diversos setores na atualidade. Nem vamos falar da
luta política, pois não haveria tempo nem espaço suficiente no
momento. Há uma guerra não aparente no convívio diário entre as
pessoas que se manifesta através da comunicação.
Criados
a partir de um modelo rígido de certo e errado, de céu e inferno,
de culpa, de pecado, de justo e injusto, de mérito e demérito, os
homens adquiriram a habilidade para proferir julgamentos.
Contrariando todos os princípios da filosofia do direito, as penas
prolatadas são irrecorríveis. A jurisdição se esgota no olhar do
outro. Azar do “réu” que errou, que teve culpa, que não teve
mérito. Dane-se.
O
psicólogo americano Marshall Rosemberg, que pesquisou em zonas de
conflitos por anos, destaca o papel crucial da linguagem e o uso das
palavras como fator desencadeador de violência no dia a dia. Ou
seja, a forma como a mãe fala com seu filho, o modo como o patrão
se impõe diante do seu empregado, como os irmãos conversam entre
si, como o professor transmite o que sabe a seus alunos ou, mesmo,
como os casais se comunicam nas mais prosaicas conversas cotidianas,
podem revelar o grau de empatia entre os seres. E as palavras
carregam consigo cargas energéticas que podem ser de tolerância ou
intolerância, de aceitação ou de repulsa.
No
momento atual, quem não se vale da força das palavras parece que é
complacente, frouxo, sem personalidade, moleirão. O certo é falar
alto com tom de julgamento, expressar com decisão impondo com o
objetivo de vencer a disputa, de eliminar o outro. Muito embora o
julgamento seja a norma na vida cotidiana, o chão onde mais prospera
este costume é mesmo o virtual. Nos comentários na internet isso é
uma regra. A agressividade é a marca.
Há
alguns anos surgiu a Comunicação Não Violenta. Menos imposição
na linguagem, mais compreensão. No fundo é uma adaptação dos
conhecimentos do sábio chinês Lao Tsé, que têm por base a
valorização da existência sem grandes berros e gritos. Para ele,
os fracos podem vencer os fortes e o suave pode derrotar o rígido,
como a água que insistentemente corre e abre caminho mesmo diante da
mais sólida rocha. “Alguns são assaz corajosos para terem a
coragem de matar. Outros são assaz corajosos para parecerem covardes
e terem a coragem de conservar a vida”.
Postagem editada - publicada originalmente em 19/05/2016
Postagem editada - publicada originalmente em 19/05/2016
Parabéns. Belo trabalho.
ResponderExcluirMuito reflexivo.
Obrigado. Grande abraço!
ResponderExcluirAtualíssima abordagem. Nos tempos atuais há que se pensar muito antes de escrever ou falar algo, pois reina uma necessidade de entrega ao conflito, por pressões pessoais que são levadas ao público de forma inconsequente.
ResponderExcluirMuitos conflitos nascem justamente da falta de reflexão. Abração, amigo Marcelo!
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