Os ditados populares não são
exclusivamente uma mania nacional. O
grande escritor Luís da Câmara Cascudo já dizia que “os ditados
populares sempre estiveram presentes ao longo de toda a História da
humanidade”.
Esta tendência a transmitir uma mensagem reta, certeira e, por
vezes, até engraçada se espalha pelo mundo todo. Cada país tem lá
suas sentenças que se transmitem de avô para filho para neto e
assim vai indefinidamente. Pode-se dizer que o ditado popular, adágio
ou provérbio é um precursor do meme. Porém, tem sua origem em
tempos desconhecidos e se propaga basicamente na oralidade.
Ao longo do tempo, de tão
repetidos que são tornam-se importante componente cultural.
Diferentemente do meme, o ditado não tem prazo de validade. No
entanto, no mundo culto não goza de prestígio, pois a repetição
sepulta a originalidade e a espontaneidade. O que vira chavão, em
regra, sofre desprezo pelos que valorizam a autenticidade. Porém,
que atire a primeira pedra quem, em algum momento da existência, não
tenha se valido da fórmula pronta, da sentença que dispensa o
raciocínio e salta da boca sem grande esforço.
Quem nunca falou, mas pisa neste pedaço de terra, por certo já
ouviu em alguma circunstância familiar algo no estilo “os últimos
serão os primeiros”, “manda quem pode obedece quem precisa”,
“pau que nasce torto nunca se endireita”, “quem com ferro fere
com ferro será ferido”, “quando um não quer dois não brigam”
etc e tal. Pois bem, há milhares de frases que se espalharam quase
que magicamente se perpetuando ao longo dos tempos em praticamente
todas as línguas.
O costume, como disse ali atrás, não é coisa de brasileiro. Nos
outros países este traço cultural também se faz presente. "Muito trabalho e pouca diversão tornam Jack um menino aborrecido", falam lá na Inglaterra, destacando a necessidade em equalizar o tempo de trabalho e o de lazer para que os meninos sejam felizes. A sentença, como se sabe, bem se aplica aos adultos. A sabedoria japonesa se expressa com alguma graça no improvável "até os macacos caem de árvores", o que corresponde ao nosso tradicional "todo o mundo erra". Já o criativo "água dividida não volta para a bacia" vem a ser o nosso "não se deve chorar o leite derramado".
Os
portugueses têm lá suas graças. Suas verdades populares bem se
aplicam por estas bandas. Segundo eles, “os visitantes sempre dão
prazer, se não quando chegam ao menos quando partem”. Há coisas
atuais e historicamente reincidentes como “onde reina a força, o
direito não tem lugar”. Nestes tempos de muita fala e pouco
silêncio, ensinam os lusitanos: "quem fala muito, dá bom dia a cavalo".
Estudiosos
afirmam que um dos ditados mais populares em todas as línguas tem,
na realidade, uma origem nobre. O escritor latino Ovídio, que foi
exilado sem conhecimento prévio do motivo, teria escrito “a água
mole cava a pedra dura”. Repetido oralmente ao longo dos tempos,
pois as letras não eram tão populares no passado, ganhou rimas para
a sua memorização. Com isso virou o nosso “água mole em pedra
dura, tanto bate até que fura” que advoga a insistência como
forma de vencer as dificuldades por mais que pareçam
intransponíveis. Uma obviedade que vem sendo construída ao longo
dos tempos, mas, que mesmo assim, às vezes, especialmente para quem
está no meio do furacão, pode escapar à observação. Elementar,
meu caro Ovídio. Elementar!
Costumes, culturas, raças!
ResponderExcluirCrenças muito forte!
Respeito! Reverência!
Mas mudar é preciso!
Com certeza: nossa linguagem vai se tornando limitada quando abandonamos a espontaneidade e optamos por fórmulas prontas. Mudar é preciso!
ExcluirPois me perdoem os catedráticos mas sou fã dos ditos populares. Como bem coloca o amigo, muitos ditos tem a tendência de levar uma mensagem certeira e engraçada. Uso como "manchete" para abordar mais detalhadamente um assunto ou fixar didaticamente um conceito. Alguns ditos obviamente carecem de atualização ou não são adequados aos dias atuais,mas a mim são úteis.
ResponderExcluirNa verdade,em alguns momentos há certo preconceito em relação à Cultura popular. O pensamento acadêmico não aceita muito bem os conceitos populares.
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