Não
restam dúvidas de que os ciclos duram menos nos dias de hoje. Sinal
dos tempos: tudo, nos dias que se seguem, movimenta-se num ritmo mais
acelerado. Tudo é muito rápido. Alguns dizem que a percepção do
tempo vai mudando conforme o número de tarefas e o envolvimento que
se tem. Como estamos todos - querendo ou não-, conectados, alguns
quase escravizados a aplicativos de mensagem, nem se nota que os
minutos correm como um atleta queniano na maratona. E assim
apressados seguem-se as horas, os dias e as semanas.
Uma
notícia, uma imagem, um meme, uma postagem prosaica, uma bomba ou
uma bombinha com ímpeto atravessam o mundo em segundos. Num passado
muito recente não era assim. A vida era mais lenta. As coisas
demoravam mais. As novidades envelheciam até chegar nos cantões
mais distantes.
No
futebol este fenômeno é flagrante. Os meninos daqui nem chegam mais
a conquistar os corações dos torcedores nativos e, depois de meia
dúzia de gols ou de algumas centenas de passes certos, vão desfilar
seu talento nos gramados europeus. Precisam sair daqui para serem
vistos, para serem notados, para serem selecionáveis. Coisas de
mercado, de grupos empresariais e, talvez, de recursos financeiros
que correm para lá e para cá enchendo contas bancárias de gente
insuspeita e respeitável. Apesar do tamanho do negócio, que, em
regra, gira sempre na cada dos milhões de euros, alguns desses
rapazes quebram a cara. Não se adaptam à falta de feijão e de
arroz, do churrasco da galera e, especialmente, dos amigos que aqui
ficaram nas animadas rodas de pagode ou ainda, nas baladas
sertanejas.
Na
política o negócio não é menos rápido. O eleito, em regra,
também investiu alguns milhões. Mas, dinheiro não é problema. O
processo é rápido. Uns minutos na tevê, alguns robôs distribuindo
notícias louvando o candidato e detonando os oponentes com notícias
inverídicas e está feito o negócio. Como tudo é muito rápido,
rápida também é a resposta que se espera do candidato agora
governante. Não obstante, o escolhido, o ungido, o salvador vê-se
diante de uma grande enrascada. E pode mudar de status também
velozmente. A voz do povo que representava há meia dúzia de meses a
voz de Deus pode emudecer diante da falta de ação ou, ainda, de
ações desastradas. Não é necessário muito tempo para a esperança
virar desencanto e o salvador mostrar-se incapaz de salvar alguma
coisa.
Analisando
sem paixões e sem medo de errar, vejamos o exemplo do super juiz que
virou super ministro. Chegou lá com pompa e circunstância. Foram
poucos meses de fritura e sabotagem no seu próprio grupo de governo,
algumas espinafradas do Congresso e meia dúzia de diálogos jogados
na rede e o super juiz virou infraministro. De salvador virou um
peso. De indispensável virou uma peça que pode ser descartada logo
ali. Deixando de lado os apaixonados e milicianos, resta pouca
credibilidade. Se as mensagens foram ou não colhidas ilegalmente,
isso nem mais vem ao caso, afinal o próprio infraministro usou deste
expediente não faz muito.
O
ciclo é rápido. Rápido demais. Os fantasmas do passado, porém,
vivem seu próprio tempo. Vez por outra podem dar as caras. Nos dias
de hoje usam os mesmos meios que nós todos. Às vezes são arquivos
que não foram apagados, imagens que se perpetuaram e diálogos que
não deviam ser ouvidos por terceiros. Os fantasmas perseguem os
afins. Nunca os outros.
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