Por óbvio que é não é culpa do meio, mas de quem o utiliza. A bem
da verdade, é lícito que se declare que esse uso equivocado do
processo de comunicação não é uma característica do nosso povo.
Não é exclusivamente retrato de nosso atraso, de nosso atavismo, de
nossa falta de cultura e de traquejo social. A falta de etiqueta, de
compromisso com a verdade é mundial. Claro, isso não absolve quem
usa este meio para atacar, para difundir o ódio, para reafirmar os
preconceitos contra grupos sociais ou defender ideias políticas ou
políticos notadamente ignorantes ou mal-intencionados.
Por outro lado, este lado ogro das redes tem um viés altamente
proveitoso para os maus governantes. Às vezes, esta ladainha de
acusações, este joguete de informações falsas, de zoações
aparentemente despretensiosas contribuem para que o atrapalhado
governante continue batendo cabeça consciente ou inconscientemente.
Me ocorre que esta refrega virtual, baseada na acusação e no grito,
cria ambiente para o desenvolvimento do método da desinformação.
Nada é sutil. O vocabulário, o argumento (ou falta dele), os
personagens são todos conhecidos. A informação é o que menos
conta. Importa a versão ou o combate, o atrito, a zoação e o
menosprezo a uma versão factível.
O papo está resvalando para o incompreensível? Pois bem, se assim
está, vamos aos exemplos. Certo dia alguém postou no Facebook uma
destas reportagens ou opiniões de uma colunista da Globo destacando
algum erro ou engano do Presidente: sim, apesar de ungido, ele pode
cometer enganos, gafes e, creiam, até mesmo erros. Interessante é
que em segundos isso se espalhou como notícia de desastrem aéreo. A
revolta entre os partidários e crentes na divindade presidencial foi
enorme. Um barulhão daqueles. Socos, pontapés e cusparadas
transformaram-se em palavras. Uma das acusações mais batidas foi a
de Globo Comunista. Ora, ora; pois, pois, diria conhecido
velho português, que morreu há décadas.
Não é de se estranhar este tipo de comentário. O processo de
comunicação atual é pródigo em gerar situações como esta. Nos
dias corridos como os de hoje não resta muito tempo para profundas
análises. Assim sendo, não há porque se gastar palavras discutindo
a ideia ou debatendo alguma coisa. Este ato de pensar antes de falar
pode ser pernicioso. Vai que se gastem neurônios. Vai que neurônios
gastos comprometam a sanidade. O aprofundamento virou mimimi. E, como
se sabe, a busca por versões mais próximas da verdade é processo
cansativo demais. Então, a estratégia mais rápida e mais eficaz
encontrada é atacar o comunicador. Simples assim. Criam-se
chateações, geram-se energias densas e o autor da postagem remove o
conteúdo. O propósito da desinformação enfim traz alguns
resultados.
Com tudo isso, defender alterações quem sabe mais humanas na lei da
Previdência Social, o Sistema Único de Saúde gratuito, a
manutenção de investimentos na educação e a valorização do
professor, a garantia dos direitos trabalhistas, do estado laico
virou torcer contra o Brasil, coisa de comunista etc e tal. Chegou-se
ao ponto de as pautas políticas virarem profissão de fé.
Descaradamente incluiu-se até a figura de Deus neste meio. Creio que
a divindade lava as mãos diante da ignorância e dos erros cometidos
pelos homens (e só por eles) em seus processos imperfeitos de eleger
aqueles que devem ser os líderes e representantes da média dos
cidadãos. Este panorama é um tanto quanto cansativo. Por isso, boa
parte das pessoas foge das redes sociais abertas onde a guerra se
estabelece. Silenciar é menos trabalhoso.
Quem aposta no método da desinformação bate palmas.
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