11/06/2019

O Método da Desinformação


Boa parte dos meus amigos e conhecidos tem optado por garantir uma certa distância das redes sociais. Eventualmente postam uma ou outra coisinha para não cair no esquecimento total neste mundo chamado apropriadamente de virtual. Fenômeno decantado como a expressão mais vívida da democracia, não é menos verdade que as ferramentas virtuais, como o Facebook, Twitter e outros da mesma corrente, às vezes, se prestam mais a escancarar o alto grau de ignorância e truculência dos nossos tempos do que a tarefa primordial que é conectar as pessoas.
Por óbvio que é não é culpa do meio, mas de quem o utiliza. A bem da verdade, é lícito que se declare que esse uso equivocado do processo de comunicação não é uma característica do nosso povo. Não é exclusivamente retrato de nosso atraso, de nosso atavismo, de nossa falta de cultura e de traquejo social. A falta de etiqueta, de compromisso com a verdade é mundial. Claro, isso não absolve quem usa este meio para atacar, para difundir o ódio, para reafirmar os preconceitos contra grupos sociais ou defender ideias políticas ou políticos notadamente ignorantes ou mal-intencionados.

Por outro lado, este lado ogro das redes tem um viés altamente proveitoso para os maus governantes. Às vezes, esta ladainha de acusações, este joguete de informações falsas, de zoações aparentemente despretensiosas contribuem para que o atrapalhado governante continue batendo cabeça consciente ou inconscientemente. Me ocorre que esta refrega virtual, baseada na acusação e no grito, cria ambiente para o desenvolvimento do método da desinformação. Nada é sutil. O vocabulário, o argumento (ou falta dele), os personagens são todos conhecidos. A informação é o que menos conta. Importa a versão ou o combate, o atrito, a zoação e o menosprezo a uma versão factível.
O papo está resvalando para o incompreensível? Pois bem, se assim está, vamos aos exemplos. Certo dia alguém postou no Facebook uma destas reportagens ou opiniões de uma colunista da Globo destacando algum erro ou engano do Presidente: sim, apesar de ungido, ele pode cometer enganos, gafes e, creiam, até mesmo erros. Interessante é que em segundos isso se espalhou como notícia de desastrem aéreo. A revolta entre os partidários e crentes na divindade presidencial foi enorme. Um barulhão daqueles. Socos, pontapés e cusparadas transformaram-se em palavras. Uma das acusações mais batidas foi a de Globo Comunista. Ora, ora; pois, pois, diria conhecido velho português, que morreu há décadas.
Não é de se estranhar este tipo de comentário. O processo de comunicação atual é pródigo em gerar situações como esta. Nos dias corridos como os de hoje não resta muito tempo para profundas análises. Assim sendo, não há porque se gastar palavras discutindo a ideia ou debatendo alguma coisa. Este ato de pensar antes de falar pode ser pernicioso. Vai que se gastem neurônios. Vai que neurônios gastos comprometam a sanidade. O aprofundamento virou mimimi. E, como se sabe, a busca por versões mais próximas da verdade é processo cansativo demais. Então, a estratégia mais rápida e mais eficaz encontrada é atacar o comunicador. Simples assim. Criam-se chateações, geram-se energias densas e o autor da postagem remove o conteúdo. O propósito da desinformação enfim traz alguns resultados.
Com tudo isso, defender alterações quem sabe mais humanas na lei da Previdência Social, o Sistema Único de Saúde gratuito, a manutenção de investimentos na educação e a valorização do professor, a garantia dos direitos trabalhistas, do estado laico virou torcer contra o Brasil, coisa de comunista etc e tal. Chegou-se ao ponto de as pautas políticas virarem profissão de fé. Descaradamente incluiu-se até a figura de Deus neste meio. Creio que a divindade lava as mãos diante da ignorância e dos erros cometidos pelos homens (e só por eles) em seus processos imperfeitos de eleger aqueles que devem ser os líderes e representantes da média dos cidadãos. Este panorama é um tanto quanto cansativo. Por isso, boa parte das pessoas foge das redes sociais abertas onde a guerra se estabelece. Silenciar é menos trabalhoso.
Quem aposta no método da desinformação bate palmas.

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