Por Marcelo Reis, advogado, professor, coordenador do Curso de Direito da Unicnec - Osório.
Em uma palestra sobre
cybebullying em uma escola um menino de cerca de oito anos me relatou
o seguinte: “quando minha mãe ganhou um celular novo, ela não
saía do celular. Eu falava pra ela, “mãe, mãe, mãe”. Eu
queria atenção e ela não dava. Aí eu falei pra ela: “o dia que
eu tiver um celular, também não vou te dar atenção. Hoje minha
mãe me chama e eu não respondo, fico de fone de ouvido e ela grita
comigo”.
Relatos como esse são aos
montes. Tecnologia afastando pessoas próximas e unindo as distantes.
Não se fala com os filhos que estão ao lado, mas conversa-se com
clientes, amigos e parentes que estão a léguas de distância. O
menino do relato, hoje age em represália com a mãe, e de forma
consciente, o que causa mais espécie.
As redes sociais mudaram a
nossa vivência social. Diz-se ser a nova revolução industrial. As
relações de amizade, os vínculos afetivos, as escolhas de
representantes do povo, tudo passa pela rede. As empresas estudam com
afinco como captar mais clientes utilizando a rede. Empregadores
controlam seus funcionários pelas redes sociais, bem como contratam
pelas redes sociais. Tudo se transformou.
Todavia, algo que corre no
imaginário, é a possibilidade de se fazer tudo nas mídias sociais,
como se fosse a terra sem lei. Aquilo que une, também afasta, e
muito... os nervos afloram em debates homéricos, acusações na
seara política, brigas entre vizinho e “ex-amigos” com pintas de
irresponsabilidade. Entretanto, as redes não são terras sem lei.
O Judiciário, cada dia mais,
recebe ações versando sobre fatos ocorridos com a utilização das
plataformas e vai condenando “às pencas” os
gladiadores-facebookianos. A rede exige responsabilidade. Tudo que
está escrito está printado. Tudo que está manifestado, está
registrado.
O controle na utilização das
redes é fundamental. Estudos apontam que o usuário da mídia social
não deve utilizá-la quando seu estado anímico não esteja
normalizado, pois o “enter” pode gerar erros avassaladores.
Manifestações equivocadas podem gerar a perda de laços afetivos,
problemas em demais relacionamentos ou até mesmo na carreira
profissional.
O ideal seria colocar um
lembrete assim que o login é feito, nos moldes de “aprecie com
moderação”. Assim, devemos nos valer das redes para o que é
positivo, para estreitamento dos laços, criação de novas amizades
e nunca para fins belicosos e irresponsável, pois um dia a conta
virá, seja o Judiciário batendo a sua porta, seja o seu filho
fazendo aquilo que um dia você fez, “ficar na bolha”.
* Publicado originalmente no caderno Mundo das Ideias, edição de junho de 2019. O suplemento circula mensalmente encartado no Jornal Bons Ventos.
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