30/06/2019

Aquilo que une, também afasta, e muito...


Por Marcelo Reis, advogado, professor, coordenador do Curso de Direito da Unicnec - Osório.
Em uma palestra sobre cybebullying em uma escola um menino de cerca de oito anos me relatou o seguinte: “quando minha mãe ganhou um celular novo, ela não saía do celular. Eu falava pra ela, “mãe, mãe, mãe”. Eu queria atenção e ela não dava. Aí eu falei pra ela: “o dia que eu tiver um celular, também não vou te dar atenção. Hoje minha mãe me chama e eu não respondo, fico de fone de ouvido e ela grita comigo”.
Relatos como esse são aos montes. Tecnologia afastando pessoas próximas e unindo as distantes. Não se fala com os filhos que estão ao lado, mas conversa-se com clientes, amigos e parentes que estão a léguas de distância. O menino do relato, hoje age em represália com a mãe, e de forma consciente, o que causa mais espécie.
As redes sociais mudaram a nossa vivência social. Diz-se ser a nova revolução industrial. As relações de amizade, os vínculos afetivos, as escolhas de representantes do povo, tudo passa pela rede. As empresas estudam com afinco como captar mais clientes utilizando a rede. Empregadores controlam seus funcionários pelas redes sociais, bem como contratam pelas redes sociais. Tudo se transformou.
Todavia, algo que corre no imaginário, é a possibilidade de se fazer tudo nas mídias sociais, como se fosse a terra sem lei. Aquilo que une, também afasta, e muito... os nervos afloram em debates homéricos, acusações na seara política, brigas entre vizinho e “ex-amigos” com pintas de irresponsabilidade. Entretanto, as redes não são terras sem lei.
O Judiciário, cada dia mais, recebe ações versando sobre fatos ocorridos com a utilização das plataformas e vai condenando “às pencas” os gladiadores-facebookianos. A rede exige responsabilidade. Tudo que está escrito está printado. Tudo que está manifestado, está registrado.
O controle na utilização das redes é fundamental. Estudos apontam que o usuário da mídia social não deve utilizá-la quando seu estado anímico não esteja normalizado, pois o “enter” pode gerar erros avassaladores. Manifestações equivocadas podem gerar a perda de laços afetivos, problemas em demais relacionamentos ou até mesmo na carreira profissional.
O ideal seria colocar um lembrete assim que o login é feito, nos moldes de “aprecie com moderação”. Assim, devemos nos valer das redes para o que é positivo, para estreitamento dos laços, criação de novas amizades e nunca para fins belicosos e irresponsável, pois um dia a conta virá, seja o Judiciário batendo a sua porta, seja o seu filho fazendo aquilo que um dia você fez, “ficar na bolha”.

* Publicado originalmente no caderno Mundo das Ideias, edição de junho de 2019. O suplemento circula mensalmente encartado no Jornal Bons Ventos.

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