20/05/2020

Aquele Abraço

O abraço é um dos gestos afetuosos suprimidos pela pandemia de coronavírus. O costume, ao contrário do que se imagina, não vem sendo praticado desde eras antigas. Homens da caverna não se abraçavam. Se cena como esta ocorresse naqueles longínquos tempos eram durante alguma briga, algum desentendimento e não para demonstrar afeição e apreço.
Este tipo de cumprimento, que está relacionado como demonstração de afeto, carinho, acolhimento, compaixão, saudade, amizade e proteção instintiva pode ser considerado um gesto recente. Se é gesto popular hoje em várias partes do mundo, há outros lugares em que o abraço não é assim tão cotado. Entre os japoneses, por exemplo, este costume não existe. Em países europeus, como Portugal, também é raro. Claro, quando o atacante do time ou da seleção vence a defesa adversária e faz um gol, homenzarrões abandonam seus recatos e preconceitos e se jogam nos braços de estranhos, sem culpa, sem dor e sem vergonha. No dia a dia, no entanto, o recato é a regra.
No passado, o cumprimento padrão entre as pessoas era o aperto de mãos. Aliás, outro gesto suprimido pelos manuais editados pelas autoridades sanitárias visando o combate do poderoso vírus que ganham o mundo, causando medo e morte na velocidade de um raio.
O escritor brasileiro Mário Prata, que adora escrever sobre a origem das coisas, sem mencionar qualquer dado científico ou pesquisa antropológica, decreta que o abraço é uma contribuição italiana para a humanidade. Mas, teria, segundo ele, nascido em instâncias não muito recomendadas.  Diz ele que a origem do abraço, “desses de grudar o corpo, dar tapinhas nas costas, na barriga, na cintura, apertar mais uma vez, quem inventou isso foram os mafiosos italianos. E sabem para que? Davam tapinhas e apalpadelas para ver se o outro tinha alguma arma no corpo”. Que coisa, hein!?
Bueno! Se assim verdadeiramente é, conclui-se que, mesmo entre os chamados maus pode-se resgatar alguma contribuição positiva.  Há, nos dias de hoje, profissionais da área da psicologia e do comportamento que receitam o abraço como fato de combate ao stress, à baixa autoestima e no desenvolvimento do amor-próprio.   
Povos menos calorosos, como os britânicos e alemães, vinham, através das novas gerações implementando o abraço como costume para demonstrar afeto e familiaridade. Em 2014, os sociólogos britânicos Eric Anderson e Mark McCormack publicaram um estudo mostrando que 93% dos jovens estudantes de esportes britânicos já abraçaram um amigo como sinal de amizade. 
Este panorama certamente vai mudar após o evento da pandemia. Ao menos nos primeiros tempos o abraço transitará muito mais na fala do que no gesto. Os brasileiros neste quesito estão na frente dos demais. O abraço falado é amplamente usado por aqui e, em muitos casos, como na falta de intimidade, ou mesmo no uso dos meios virtuais, é expressão que encerra as conversas entre conhecidos ou mesmo entre desconhecidos. Em outros países, este abraço virtual não existe, ainda.
No dia 22 de maio, sexta-feira próxima, será o Dia do Abraço. Este dia foi instituído em 2004, quando um australiano, de pseudônimo Juan Mann criou a campanha Free Hugs Compaign, distribuindo abraço gratuitamente pelas ruas de Sidney. O gesto ganhou destaque internacional quando a banda australiana Sick Puppies gravou um clipe com imagens da campanha. O vídeo foi um presente para Juan Mann que havia perdido a avó  – o vocalista da banda colocou o vídeo no YouTube e em dois dias já eram registradas, 250 mil visualizações. Depois disso, a partir de Portugal a campanha começou a chamar a atenção no mundo todo, ganhando adesões em vários países, especialmente entre os jovens.
Como as restrições sanitárias indicam muitos cuidados e a distribuição de abraços está entre eles, restará aos coniventes manter vivo este gesto simples, que traz satisfação e é muito eficaz. Um grande abraço!
           

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