20/08/2020

Os guarda-sóis verdes

 Moisés Santos estava trabalhando. Talvez achasse que sua saúde estivesse em perfeitas condições. Talvez desconfiasse que não estava tão bem assim. Uma dor no peito, alguma dificuldade para respirar: nada que fosse muito sério. Afinal, estava acostumado a trabalhar, precisava do emprego (que pagava pouco) e um afastamento agora em plena pandemia talvez fosse uma catástrofe.

Moisés Santos tinha 53 anos de idade. Trabalhava como promotor de vendas. Circular pelos corredores de supermercados era sua função dando evidência às marcas que representava. Dia desses sentir-se mal.  Caiu no chão devido a um  enfarto fulminante. Ali ficou.

O supermercado providenciou um tapume improvisado. Alguns guarda-sóis verdes, ajeitou umas caixas de produto. Implementou um isolamento fake.

Enquanto o corpo de Moisés, um trabalhador, descansava, as donas de casa olhavam com interesse as verduras frescas para o almoço da família. Os caixas seguiram passando as compras e cobrando os preços marcados na tela.

Tudo funcionava como sempre. Menos Moisés. Moisés estava atrapalhando. Ficou estendido por quatro horas até o corpo ser resgatado pela perícia.

Nas redes sociais, dias depois Moisés foi lembrado. Um trabalhador a mais que morreu no local de trabalho. Um morto qualquer que, diante da repercussão, levou o nome Carrefour ao topo das citações.

A rede gigantesca veio a público e disse que mudou seu protocolo. A partir de agora, dizem, se houver morte dentro do estabelecimento haverá obrigatoriedade de fechamento da unidade.

O respeito aos trabalhadores vem sendo arquivado faz muito neste país que pouca importância tem destinado às pessoas. Moisés Santos que o diga.