As redes sociais vieram para
mudar tudo. Eu disse tudo. Mas, nem sempre foi assim. No começo era mais uma
brincadeira de nerd. Hoje é coisa séria. A vida passa por ali. Se não tá na
rede não existe. O mundo virtual é o mundo real. A vida chata de alguém que
carrega dentro de si uma carga enorme de infelicidade pode ser filtrada de tal
forma que os outros a percebam como a mais feliz das criaturas.
Não
é discurso moralista. Nem estou dizendo que um dia foi melhor. Não é isso. Na
verdade, o homem vem, desde os tempos da penumbra das cavernas, tateando. Saiu
da escuridão para a luz sem óculos escuros. Viu seu reflexo na água e ali
nasceu um deus. E foi criando deuses e
mais deuses porque se encantou com tudo o quanto era majestoso e inexplicável.
Eis
que só criar deuses não revelou ser uma prática consistente. E alguém começou a
pensar sobre a sua própria existência. Alakazam! Surgia a Filosofia. Quem sou
eu, de onde vim, para onde vou? Que faço neste corpo? A morte é o fim? Qual o
sentido da vida? Penso, logo existo? Cruzo o mesmo rio mais do uma vez? Ou o
rio que cruzo agora já não será mais o mesmo rio no segundo seguinte justamente
porque o cruzei? Perguntas e mais perguntas. Responde quem acha que sabe. Já
quem sabe diz que nada sabe e mais pergunta do que responde.
Foram
séculos de estudos e mais estudos. Pesquisas e discursos. Ainda que de modo
imperceptível, sem golpes e nem pulos históricos, o homem das cavernas, apesar
de sua luta renhida para sobreviver, achou tempo para progredir. Deixou de
resolver as coisas no sopapo, virou gente. Aprendeu a cumprimentar cordialmente
os outros, mesmo que os dentes estivessem cerrados. Aprendeu a sorrir
disfarçadamente, mesmo que por dentro corresse algum ácido pelas entranhas. Ou
seja, a civilidade, de algum modo, validou a hipocrisia. Afinal melhor ser
hipócrita do que ogro. Não é assim?
Eis
que chegamos até aqui. Guerras, negociações, períodos de paz e de sossego. Isso
só foi possível porque criaram regras jurídicas e sociais. Não fosse isso, não
haveria ordem no barraco. Ninguém se entenderia.
As
redes sociais mudaram muita coisa. Ouso dizer quase tudo. O contato humano,
aquele mais próximo, tende a desaparecer ao longo dos tempos. O aperto de mão,
tão simplório, frio ou quente conforme a energia de cada ser, tão raro será um
dia. O abraço, então, será extinto. Bastará enviar mentalmente uma curtida.
Ficará gravada na rede virtual a manifestação de carinho e apreço. O mundo
virtual saberá.
Alguém
vai pensar que é exagero. Teoria do caos. Loucura de quem não tem outra coisa
para pensar. Qual nada. Às vezes saio da caverna e vejo que não se usa mais
sinais de fumaça. A surpresa maior é que voltam a criar deuses. E o pior com a
face humana. Aqueles deuses vingativos, fortes, poderosos, raivosos que, em
algum momento, bem que poderia se confundir com a face oposta.
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