O frio era intenso naquele tempo. Era maior, muito maior do que o de hoje. Talvez a temperatura fosse a mesma deste julho*. Porém, o frio que sentíamos era sem comparação. Gente simples, pobre, sofre com temperatura baixa. Com reforçadas botas, capote, poncho, luvas e outros apetrechos do estilo, não há porque se respeitar o termômetro.
Naquela época, porém, inverno era sinônimo de tristeza. Também pudera ao invés de botas reforçadas as simples e invariáveis havaianas. Elas duravam bem mais do que o ano. Quando os sinais do uso se faziam presentes, as tiras rebentavam e um providencial prego alongava a vida útil por mais alguns dias, talvez semanas. Os outros itens indispensáveis, que hoje adornam nossos roupeiros eram meros sonhos, acalentados embaixo de cobertas feitas de retalhos. Frio com chuva, então, era uma desgraça. Motivo de recolhimento, de faltar à aula, de matar a pelada de fim de tarde. Sem chuva, arriscávamos uma contenda de pés descalços, de calções curtos e puídos.