25/04/2010

Os erros de cada um

Conheci um indivíduo que, tão logo alguém destacasse um defeito de alguém, ele, de maneira sutil, destacava uma virtude. No início, sua preocupação em neutralizar os comentários negativos me pareceu estranho, muito estranho! Só depois de algum tempo notei que esta é a melhor maneira de esvaziar uma conversa que vai enveredar, inevitavelmente, pelo caminho da apreciação, em regra negativa, apressada, sobre a personalidade, o caráter ou qualquer coisa que se relacione ao outro.
Nos tempos atuais nos acostumamos com o rigor excessivo em relação ao outro. Julga-se apressadamente, condena-se, inevitavelmente. Apontam-se as falhas dos outros, às vezes sem piedade. Talvez seja um viés dos tempos atuais. Nunca houve tanto rigor, tanta cobrança. Nunca houve, por consequência, tanta intolerância. É por isso que os relacionamentos não duram. Famílias se desfazem. As amizades são frias, as pessoas não mais se visitam e acabam por perder o contato.
Um recente estudo desenvolvido por terapeutas que trabalham na assistência familiar concluiu que os membros das famílias brasileiras estão se tornando cada vez mais frios. As manifestações de carinho estão sendo esquecidas. As qualidades não são mais destacadas. A crítica costumeira por vezes áspera, ácida, tomou conta do ambiente familiar, do trabalho e de todos os ambientes.
Neste panorama, o costume vai influenciando um a um. Como num efeito cascata, daqui a pouco estamos reproduzindo o padrão de comportamento. Afinal, estamos em sintonia com as pessoas que vivem ao nosso redor. Influenciamos e somos influenciados. Cada grupo vai estabelecendo seus padrões. O nosso, no momento presente, é o da cobrança. Todo mundo cobra mais de todo o mundo. Gera-se uma verdadeira obsessão. Todos têm um compromisso, um pacto com o sucesso. Nós, nossos filhos, nossos amigos, nossos conhecidos parecemos ter somente uma opção, uma estrada: a que leva à vitória.
Ser bem-sucedido tornou-se um mantra. O mantra pós-moderno. Alguns poderão achar que é um exagero. E realmente é. Tanto que há movimentos em boa parte do mundo que pregam que o homem deve pisar no freio, deve brecar um pouco o ritmo de sua vida. Em síntese deve apreciar um pouco mais as coisas simples. Voltar-se para dentro. Contemplar e meditar.
A receita não é nova. É milenar entre os orientais. Curar o sofrimento individual com o mergulho no seu interior é coisa batida entre chineses, japoneses e hindus. Por aqui, porém, verdades antigas parecem não gozar de grande apreciação. Não é vergonha admitirmos que pouco tempo dispomos para estas coisas transcendentais. Nossa geração, nossa cultura, nosso tempo nos exige um monte de coisas, um monte de compromissos que mais nos afastam do nosso centro, mais nos impulsionam para o exterior. Assim, doloroso é conhecer nossas fraquezas, admitir nossos erros e, por consequência, mais difícil se torna o indispensável processo de revisão de valores que, por certo, todos nós algum precisaremos passar.
Alguns amigos me comentam que, algumas vezes, não chegam ao final da coluna. Não são seduzidos por questões filosóficas. Paciência. Agradar a todos é algo impossível. Muitos já tentaram. Nestes casos, o melhor mesmo é nem tentar.

Um comentário:

  1. Adorei está matéria! Me fez refletir muito sobre as amizades e os valores humanos. A propósito, como está difícil as pessoas se desvincular das questões materiais e se voltar mais para as relações humanas? A vida é curta, por isso, "é preciso saber viver"...
    Abraço amigo!!

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