O médium Francisco Cândido Xavier, conhecido mundialmente como Chico Xavier, vem sendo lembrado com insistência nos últimos dias, com matérias na televisão, nos jornais e, inclusive com o lançamento nacional de um filme sobre sua vida. Lembrança mais do que justa, pois o médium mineiro completaria no dia 02 de abril, 100 anos. São inegáveis os méritos de Chico, que dedicou toda a sua vida à assistência aos menos favorecidos.
É comovente seu trabalho de consolação aos familiares, com a psicografia de mensagens de entes queridos que partiram desta dimensão. Relevante, ainda, o desprendimento material de Chico Xavier, que doou os direitos autorais de todas as suas obras, 451 livros psicografados, a entidades voltas à assistência social. Segundo seus amigos e colaboradores mais diretos, Chico sempre doou tudo o que tinha às pessoas necessitadas.
O médium mineiro foi e é fundamental na divulgação da Doutrina Espírita. Vem sendo traduzido no mundo todo. A lembrança de sua vida, sua obra, de sua dedicação pela caridade, de sua determinação pelo bem é muito positiva, especialmente nestes tempos de extremo materialismo, onde o valor mais cultuado tem sido o eu.
O momento é de homenagem, de lembrança. Porém, mesmo engajados nestas comemorações, não podemos desconhecer o censo crítico. Em alguns momentos encontramos certo exagero, uma mitificação e um sensacionalismo em relação à figura de Chico, de sua missão, de sua obra. O Globo Repórter apresentado no último dia 26 de março, por exemplo, foi de gosto duvidoso. A produção cuidou de ressaltar somente pretensos casos de controvérsia. O programa parece ter sido preparado às pressas. Foi superficial.
A Doutrina Espírita, que é uma filosofia racional, foi apresentada como ligada ao mágico, ao extraordinário. Destacou-se sempre que Chico Xavier conversava com os mortos. Na realidade, mortos não falam. As comunicações ocorrem com um espírito, que continua vivo após a passagem do corpo. Ora, não atentar para este pequeno detalhe contamina o resto. Muda o sentido, banaliza a questão e cria uma sensação perturbadora de insensatez.
Sabemos que entre as característica do nosso povo está adesão ao sincretismo religioso. Culturalmente o brasileiro é capaz de misturar crenças, como se colocasse tudo em um caldeirão e daí extraindo algo que mais atenda sua necessidade. Ora, ocorre que em alguns casos os ingredientes são conflitantes, são distintos em princípios e em forma. E o produto que daí sai é híbrido.
Cremos descabido o destaque dado ao milagreiro Chico Xavier. Colocá-lo na condição de um santo também não nos parece correto. Chico Xavier era um homem dotado de um espírito determinado a fazer o bem, a consolar, a doar. Levou ao extremo a dedicação à caridade. No entanto, não era e nem será um santo. Aliás, esta afirmação, exaustivamente feita em horário nobre, é um paradoxo. Chico Xavier, a respeito disso, diante de exageros, de elogios, dizia que era apenas um cisco. Conhecedor que era da sua porção humana, de seus conflitos, revelava: “Não sou ninguém, sou apenas um cisco de Deus. Cisco Xavier”.
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