21/04/2010

O Novo Tempo


João Batista, Luís Henrique, Vanderlei, Sílvio Benfica, Sérgio Rolim e Solano Reis (foto: Mário Gubert)

O início dos anos 80 foi movimentado. Em Osório também. Redemocratização, eleições diretas, fim das áreas de segurança, greves, surgimento de novas lideranças, inconformidade, abertura política e a volta de exilados eram alguns temas que estavam em voga. Os novos ares eram anunciados pelo movimento new wave, que se iniciou no final dos anos 70 nos EUA e Europa, chegando até aqui através da estética que valorizava as roupas excessivamente coloridas, ombreiras, cabelos ao estilo punk, mas bem alinhados e certo ar de deboche juvenil.
O pop rock nacional foi o que traduziu com mais propriedade este novo jeito de ver o mundo. Titãs, Kid Abelha, Blitz, Rádio Taxi, Paralamas do Sucesso, RPM, Plebe Rude transitaram pelos palcos de todo o Brasil juntando um pouco de tudo. Punk, Diretas-Já, diversão pura carioca, praia, Brasília, São Paulo, injustiças sociais, enfim, um caldeirão de ideias e ânimos revitalizando um rock nacional decadente.

Na província, a Marshmallow, no GAO, era o ponto de encontro da garotada do Centro. As festas no Clube União, no Ginásio do Glória, no Prudente, em outros locais alternativos, reuniam também aqueles que, ao largo de movimentos estéticos, musicais ou políticos, queriam pouco mais do que alguns momentos de diversão.
O prédio do Cinema Central, desativado junto com o Labor, foi uma dessas alternativas. Transformou-se numa discoteca. Reuniu uma turma grande, gente que, por falta de condições econômicas, pouco frequentava o GAO ou GESB . Havia som aos sábados à noite, para os jovens adultos, e no domingo à tarde, quando a piazada tomava conta da pista. A festa se iniciava às 15h e terminava por volta das 20h, quando começava a festa para os maiores. Não eram incomuns os comentários de desdém feitos pela turma mais abastada, desprezando as parcas condições do local e da chusma que ali buscava diversão. Havia até um rapaz que ia vestido à la Sidney Magal. Era um pequeno clone, com camisa com mangas bufantes, calça clara justa, sapato plataforma, cabelo caracolado e meio metro a menos que o original.
Uma das boas iniciativas da imprensa osoriense surgiu logo depois deste período. O Jornal Novo Tempo, criado pelo Silvio Benfica e pelo Clóvis Brum, o Seco, se apresentava como a imprensa alternativa da cidade. Bem feito, contava com as fotos do Teca, Mário Gubert, um autodidata com olhar preciso, e com textos primorosos do Rico, Luís Henrique Benfica, também ilustrador.
A redação era acanhada. Improvisada até. Na Galeria Real. O rádio, sintonizado invariavelmente na Band FM, enchia a sala de Mercedes Sosa, Milton, Beto Guedes, Chico, Elis, John Lennon, Beatles, Rolling Stones. Odilon Ramos comentava os fatos da cidade em versos. Certo Capitão Rodrigo alfinetava os políticos de então. Contribui com algumas crônicas musicais, apresentando os discos lançados na época e com uma sucinta agenda de programação de eventos.
O Novo Tempo tinha qualidade editorial, apresentava propostas para a cidade, mas não resistiu a um mercado publicitário incipiente, que via na propaganda um ônus, não um investimento. O jornal era muito ousado para a época. Fugia ao padrão. Não conseguiu transformar qualidade em vendas.
Agora, mais de duas décadas depois, tenho a satisfação de ler aqui mesmo nos Bons Ventos a coluna do Ademir Brum, que já naquele tempo escrevia sobre as aventuras e desventuras do esporte osoriense. O esporte mudou. Os nomes mudaram. A prática, no entanto, ainda é a mesma. Poucos abnegados, poucos recursos, muita vontade, muita dedicação e muitas histórias. Ainda bem, pois a vida tem um sabor especial quando nos encontramos diante de uma boa história.

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