07/10/2011

Os dois Brasis

Charge retirada do blog
Jornalismo 24 horas 
O professor Airton Figueiredo certa vez propôs a leitura de uma obra chamada Dois Brasis. Lá se vão duas ou três décadas. Não lembro maiores detalhes do texto, porém, foi ali que tomei conhecimento da existência de duas realidades distintas num mesmo espaço territorial.
De certa forma, esta é a minha percepção nestes momentos em que a autoestima nacional está sendo embalada pelo sucesso das políticas econômicas, implantadas por Fernando Henrique Cardoso e seguida por Lula e Dilma, com suaves e quase imperceptíveis alterações. A satisfação pelo novo momento histórico tem justificativa. Vivíamos em um país com processo inflacionário insuportável. Os produtos mudavam de preço a toda hora. Os trabalhadores perdiam parte de seus salários minuto a minuto, sem uma recomposição justa . O panorama era de desolação, de desesperança, até de vergonha.
Hoje esta questão parece resolvida. Não totalmente, é claro. Estão aí as greves de trabalhadores por melhores salários. Porém, aquele temor, aquele pavor, aquele sentimento de insegurança quanto ao amanhã, parece que são coisas do passado.
Mas nem tudo é sonho nesta pátria. Apesar dos avanços implementados na economia, resta ainda o sentimento de que se esconde uma realidade ainda cruel para muitos dos brasileiros. A constatação do país dividido em dois nunca foi tão real, tão próxima. Aqueles mesmos recursos que embalam o mercado, que incentivam o discurso pomposo dos governantes autorizados a propor a inversão da lógica de séculos – propondo até empréstimos para resolver crises pelo mundo afora, não fazem a diferença aqui no andar de baixo.
Calma lá! Vou explicar, antes que alguém me aponte alguma estatística sobre o crescimento na compra de geladeiras ou de ar condicionado, ou do aumento de matrículas nas faculdades particulares que comprovam, sem dúvidas, o acesso das classes mais baixas a patamares antes desconhecidos.
Apesar das melhorias inegáveis, restam sem solução, e o que é mais preocupante, sem aparente interesse, alguns problemas de primeira ordem que atingem boa parte da nação. A saúde, a educação e a segurança, temas tão presentes nos discursos de campanha, somem da pauta após a posse dos eleitos. Este sistema de saúde que aí se encontra, por exemplo, há muito não atende às necessidades das pessoas. Na aparência tudo funciona. Porém, inventa de precisar de uma cirurgia pelo SUS! Ou serão meras quimeras as notícias de doentes que ficam mofando dentro de uma ambulância que atravessa o Estado em busca de um atendimento? Ou serão falsas estas mortes de pacientes na fila do transplante?
Caso cruel, também, dentro da área da saúde pública, o avanço das drogas com alto poder destrutivo como o crack. As autoridades brasileiras foram surpreendidas. As famílias estão sendo destruídas, uma geração inteira comprometida e pouco se ouve dos homens dos altos escalões. Verdadeiro exército de zumbis do crack avança pelas ruas das cidades, inclusive aquelas mais pacíficas como a nossa Terra dos Bons Ventos. Inciativas poucas para tamanho problema.
É inevitável que o discurso deixe de ser meramente econômico e passe à discussão política. Que termos como mercado, superávit comercial, exportações, bolsa de valores não suplantem educação, saúde, segurança e bem-estar social. Que os humores do mercado não faça sorrir somente os que já muito tem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário