Trabalho escravo (ilustração Debret) |
Lembremo-nos de que aqui mesmo, nestas paragens, há pouco mais de 120 anos atrás, indivíduos vindos da África eram vendidos como mercadorias. Arrancados de suas famílias, aprisionados em um navio, perdiam a identidade e, muitas vezes, a vida antes de chegar ao Brasil para cultivar café e algodão.
A concepção que se tem hoje do trabalho, segundo se diz, vem do protestantismo. João Calvino pregava que “privar um homem de seu trabalho é pecar contra Deus, pois o trabalho é dom de Deus”. Hoje sabemos que o trabalho possui um viés pedagógico. Nas relações de trabalho o homem se relaciona com seus pares, interfere nas relações e se modifica. Aprende a conviver com a cobrança de patrões (nem todos bons e justos), com um salário (nem sempre digno e relevante), com as angústias de uma carreira (nem sempre bem sucedida).
Enganam-se aqueles que acreditam que o nosso trabalho diário se resume ao esforço remunerado. Todo o esforço feito pelo homem é uma forma de trabalho. Trabalhamos quando lemos uma revista, quando assistimos um programa de televisão, quando cumprimentamos alguém, quando estamos absortos com nossos pensamentos.
Mesmo quando nosso corpo parece desligado das atividades corriqueiras, durante o sono, nosso cérebro está trabalhando, mantendo o funcionamento do corpo, e nossa alma pode viajar pelos confins do universo, revendo o passado, espiando o futuro ou, ainda, resolvendo nossos traumas e nossas preocupações.
E, nesses tempos atuais, preocupação é o que não nos falta. Além dos dilemas normais, o homem de hoje é capaz de criar outras preocupações, outras necessidades para se enquadrar na sua era. E, convenhamos, muitas das necessidades que criamos são coisas absolutamente dispensáveis. E, no entanto, nos tomam quase todo o nosso tempo e dão um trabalho!
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