Final de tarde. O sol se retirava
de cena vagarosamente. O calor ainda era grande, o vento era calmo. Estava
sentado em um banquinho. Tinha talvez uns oito anos. Nove no máximo. O pai
estava ao lado do rádio. Ouvia atentamente. A voz grave do locutor anunciava
com sensacionalismo: “Daqui a pouco, importante entrevista com o mago fulano de
tal que vai falar sobre o fim do mundo. Fiquem ligados. Daqui a pouco, depois
dos comerciais”.
Sentia medo o
menino. Como assim? O mundinho iria acabar?
A terra arenosa onde seus pés pisavam naqueles dias juvenis iria sumir? A
bergamoteira em cujos galhos empoleirava-se tentando pegar a fruta maior, mais
madura e mais doce desapareceria um dia? A goiabeira apinhada disputada
ferrenhamente com os passarinhos também deixaria de existir? O mundo acabando
assim desse jeito não fazia parte dos seus planos. A tarde caia e o radialista ia
adiando a tal a entrevista aumentando ainda mais a angústia, a incerteza e a
tensão que faziam o pequeno coração pular desordenadamente no peito. O pai deixou
o rádio de lado e flagrou o medo no olhar do menino. Disse que não levasse as
coisas tão a sério. Que não seria a
primeira nem a última vez que o mundo todo seria mexido por catástrofes.