Nos tempos românticos, escolas e
igrejas não eram assaltadas. Os ladrões mantinham algum resquício de ética.
Talvez resultado do apego emocional. Algum respeito à professorinha e, quem
sabe, medo de alguma retaliação da divindade? Não importa. Merenda escolar,
equipamentos usados para a educação e o ambiente sagrado eram isentos da ação
danosa dos meliantes. Este tempo foi superado. Tanto que nem é mais notícia.
Somente os jornais mais populares e as rádios locais noticiam estas ações.
Escolas da periferia os grandes centros estão impedidas de manterem
televisores, monitores, computadores, notebooks, projetores e mesmo estoque de
comida. Tudo vira moeda no comércio de pedras de crack.
O problema
hoje é maior. As notícias são mais escandalosas. Envolvem mais do que pedras.
São montanhas e mais montanhas de dinheiro envolvido. Não se sabe de onde vem,
mas sabe-se que logo logo a imprensa noticiará algo novo. Semana passada foi a
carne, na outra o leite. A dúvida é: qual o escândalo da semana? É tanto
escândalo que, se apertasse um pouco o cerco da fiscalização faltariam páginas
nos jornais, tempo no noticiário da tevê e paciência para acompanhar tudo.
De
tudo isso, firma-se a certeza de que não resta um setor de atividade em nosso
país que não esconda algum tipo de irregularidade. Ou alguém tem plena certeza
de que o processo de produção da medicação, que, em tese, deveria conduzir a
alguma espécie de cura, segue rígidos padrões de qualidade? Que não há
falcatruas envolvidas nesta produção? E as águas minerais que são vendidas a
preço de ouro? E os alimentos industrializados? E o império das igrejas que
vende o milagre da salvação das almas e investe pesado na compra de uma
indústria midiática que alimenta o rebanho com seu proselitismo?
Sei
lá. O mais correto hoje é desconfiar de tudo. Ou, para não ser tão radical, pelo
menos não cravar a certeza em cima de processos que envolvam a busca da
lucratividade. O sistema de controle é frágil, as leis são brandas e os lucros
bastante significativos. No meio de tudo isso, a saúde do consumidor é mero
detalhe. Nem entra na conta.
Houve
um tempo em que até os ladrões tinham certa ética. Faz tempo.
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