Um dos termos mais usados nos
últimos tempos na mídia, na rodinha de café, na de chimarrão ou na mesa de
bares, entre uma cerveja e outra, entre um petisco e outro, entre uma risada e
outra, é corrupção. Há um forte apelo para condenar todos quantos corruptos
forem encontrados no solo pátrio. Saudável, isso. Desejável, com certeza.
Porém, como tantos termos que são usados com tanta insistência, a expressão vai
se desgastando. No caso específico, podemos afirmar com a mais firme das
convicções: todos sabem exatamente o que é corrupção. Mas, convenhamos a
maioria não conhece a extensão que o termo carrega.
É indispensável que se veja (sem trocadilho)
o que vem a ser a tal da corrupção. E
aí, como tudo o que há no mundo do conhecimento, há teorias e mais teorias,
teses e mais teses. Para Santo
Agostinho, corrupção é ter o coração
(cor) rompido (ruptus) e
pervertido. Para o filósofo Emannuel Kant, a corrupção é própria da espécia
humana. A tendência habitaria dentro de todos nós, aguardando o momento
propício para mostrar suas garras. “Somos um lenho torto do qual não se podem
tirar tábuas retas”, disse.
Certo
é que a corrupção está na raiz da existência humana. Está na vontade de levar
alguma vantagem indevida, na tendência do homem em conquistar algo que não
mereça. Mas, está também na própria natureza. O corpo que morre se corrompe. Se
deteriora. Os corpos dos faraós eram embebidos em soluções, atados
sistematicamente e colocados no centro
de uma pirâmide para evitar que o corpo se corrompesse. Imaginavam que, em
algum mundo, acordariam e levariam nova vida. Desejavam, isso sim, corromper a
lei natural. Queriam vencer a morte.
Sendo
mais específico e atual, o grande foco da corrupção nos dias de hoje nem é
vencer a morte, pois ela é invencível. O que move o corrupto e o corruptor é o
poder. O dinheiro desviado indevidamente é usado para manter o poder. O poder
da corporação, o poder do empresário, o poder do político. Sabemos muito bem
que dinheiro e poder estão muito próximos. Ainda mais no nosso sistema onde
quem tem é. Quem não tem deseja ter e ser. E quem não tem e nem deseja está
fora do jogo, está fora de moda e, portanto, não tem poder.
A
própria mídia tão moralista para com os outros, acabou por morder a isca. Tanto
barulho fizeram que se deram conta que entre seus pares (vide Operação Zelotes)
há gente comprometida até a raiz do fio de cabelo. Então, calam. Pelo menos em
relação ao seu quintal. Convenhamos, a mídia se comporta como qualquer outro.
Como o sujeito comum. Muito embora pareça o último reduto da moral, basta um
governo reduzir a verba publicitária e
os problemas começam a aparecer. O governante abriu o cofre e, como num passe
de mágicas, maus governos viram ótimos, governantes insensíveis viram modelos e
assim vai.
A
propósito disso, o filólogo, filósofo, crítico, poeta e compositor alemão
Friedrich Nietzche disse “todo o homem tem seu preço, diz a frase. Não é
verdade. Mas, para cada homem existe uma isca que ele não consegue deixar de
morder”.
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