A turma recebeu a tarefa de
produzir um trabalho em grupo. Os grupos foram cuidadosamente separados pelo
professor. Os alunos, de quinta ou sexta série,
tinham liberdade total para criar a partir de determinado tema. Jogral,
que invariavelmente caminhava para o rotundo fracasso; distribuição de impressos em mimeógrafos, que
agradava a todos menos pelo conteúdo, mais pelo forte cheiro de álcool que
inebriava toda a classe; coreografias das mais diversas, que, em regra, mais
constrangimento causavam do que prazer aos artistas e mesmos aos diletos
expectadores.
Nosso
grupo, não sei porque raios, escolheu fazer alguma coisa parecida com o teatro.
Não era uma peça, pois o tempo era diminuto. Era um esquete. Alguém assumiu a
coordenação. Um ou dois outros se puseram a bolar toda a trama a ser
representada. Algumas poucas reuniões foram realizadas. Sei que chegou num
determinado momento e tudo estava rigorosamente pronto. Não abri a boca nas
reuniões nem fiz exigências quanto ao papel que me caberia. Pelo contrário,
intimamente minha timidez torcia para que de algum modo a tarefa fosse
cancelada e não necessitássemos de uma exposição que antevia seria um grande
desastre.
Ficou
estabelecido que alguns colegas produziriam algumas coisas em casa. O cenário
ficou para alguém, a sonografia ficou para outro, os figurino e assim por
diante. Certo que faltou supervisão.
No
dia marcado para a apresentação, o grupo foi se postando no local determinado.
O nervosismo era visível. E aumentava ainda mais quando fomos constatando que
não havia nada de cenário, nada de sonografia e nada de figurino. Como a
tragédia não era pequena, constatou-se, ainda, que alguns membros do grupo não
tinham sequer falas. Eu era um deles. E aí foi aquela correria para a improvisação.
Lembro que não havendo como incluir novos personagens naquela bagunça coube-me
o nobre papel de jardineiro. Sim, jardineiro. Só que não havia ancinho nem
tesoura nem pazinha. Flores então, nem
pensar.
E
o tal esquete foi apresentado com notável falta de entusiamo no grupo e na
plateia. E não falei palavra. E não ouvi aplausos. Só alguns risos verdadeiros.
E o professor, que dava a nota na hora, considerou aquilo tudo um lixo. E ainda
falou abertamente do desgraçado do jardineiro que além de não falar nada, ainda
ficou de costas para o público, algo totalmente contra a boa arte da
representação.
Se
o vexame coletivo marcou de algum modo minha existência estudantil, não foi
suficiente para eliminar a minha admiração pelas pessoas que conseguem com
maestria, com gestos simples e leves tornar o mundo (muitas vezes cinzento
demais) em algo mais colorido, mais belo e aprazível.
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