15/01/2016

Múltipla escolha

A existência humana seria muito mais simples se em tudo imperasse o objetivismo.  Céu ou inferno, Deus ou o diabo, Direita ou esquerda, certo ou errado, dia ou noite, claro ou escuro, bicicleta ou carro, Norte ou Sul, espiritualismo ou materialismo, quente ou frio. As opções seriam sempre duas, valendo a referida regra para todas as situações da vida.Tudo seria muito mais claro e tranquilo como uma moeda que se joga para cima e se aguarda por uma decisão. Bem simples, sem muitas possibilidades de escolhas. Dois polos, 50% de chance de acertar e outras 50% de possibilidades de errar.
O que complica o jogo, pelo menos para quem adere, por alienação, por falta de esforço, de compreensão ou por mero comodismo, a este tipo de pensamento, é que entre a direita e esquerda há o caminho do meio; entre o dia e a noite há a manhã e a tarde; entre a bicicleta e o carro há o caminhar a pé, o correr; entre o claro e o escuro há uma infinidade de tons e meios-tons. Ou seja, invariavelmente há inúmeras possibilidades notadamente quando a vida começa a ser vista sob um olhar um pouco mais atento, com os olhos bem abertos e sem a pressa de um urgente julgamento. 
Desta forma, o certo e o errado tornam-se opções muito particulares. São escolhas para quem precisa de escolhas, para quem precisa definir de maneira incontestável os grupos que os cercam. Porém, o que é certo para um é por demais errado para o outro. Considera-se absolutamente certo o terrorista que amarra uma bomba em seu corpo e detona a vida ao seu redor. Ele está a mando de Deus. Está eliminando aqueles que se opõem à obra do Senhor. E, ao detonar o explosivo, entende o fanático que está construindo algo positivo, algo bom. Está ajudando a consolidar o bem no planeta Terra.
O jamaicano Anthony Paul Moo-Yung, professor que largou suas atividades e partiu para a busca de uma visão espiritualizada da existência, tornando-se o mestre místico Mooji, tem um texto largamente divulgado nas redes sociais que, de modo exemplar, apresenta a viciante dicotomia que somos assaltados vez por outra, mesmo quando nossos propósitos são por demais positivos.  Em dado momento diz ele: “se você acha que é mais “espiritual” andar de bicicleta ou usar o transporte público para se locomover, tudo bem, mas se você julgar qualquer outra pessoa que dirige um carro, então você está preso em uma armadilha do ego... se você acha que é mais “espiritual” fazer yoga, se tornar vegano, comprar só comidas orgânicas, comprar cristais, praticar reiki, meditar, usa roupas “hippies”, visitar templos e ler livros sobre iluminação espiritual, mas julgar qualquer pessoas que não faça isso, então você está preso em uma armadilha do ego... O ego adora entrar pela porta de trás. Ele vai por uma ideia nobre, como começar yoga e então, distorcê-la para servir o seu objetivo ao fazer você se sentir superior aos outros; você começará a menosprezar aqueles que não estão seguindo o “seu caminho espiritual”.
São longos os caminhos existentes entre o certo e o errado, entre o Norte e o Sul. A pressa em julgar aprisiona o indivíduo, mesmo aqueles que se dizem bem-intencionados.  

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