Do lado de tudo fica tão fácil. O brasileiro vinha bem. Faltava pouco. A medalha já se insinuava no quadro. Mas, faltou um pouco de concentração. E ele foi perdendo fôlego. E os de trás foram passando. E nosso representante caiu. Era uma vitória certa. Tivesse um pouco mais de capricho, de garra, de determinação, de esforço. Ou de treinamento, mesmo.
Do lado de tudo fica tão fácil. O jogo está pegado. Os atacantes perdem chances incríveis. O treinador também não colabora. Escala o time muito mal. O esquema não funciona. A arbitragem também não está muito atenta. Não marca falta. Deixa o jogo andar. No fim, a culpa é de todo o mundo. A culpa é da diretoria que contratou errado, que escolheu o treinador inexperiente, que não renovou o contrato de alguém, que não contratou outro. O time despenca na tabela. E o campeonato nem é tão difícil assim. Parece que falta um pouco de raça, de gana, de determinação.
Do lado de cá tudo fica tão fácil. Bastava investir um pouco mais no esporte. Dinheiro tem. Aí estaríamos lá em cima no quadro de medalhas. Daria até para protagonizar uma disputa com os EUA e a China. O governo não ajuda, também. Só recolhe impostos e não dá nada em troca. As soluções estão aí. Basta querer.
Do lado de cá tudo fica tão fácil. Os problemas são simples de resolver. Basta um pouco de vontade. Nem se precisa tanto de pesquisa. Basta vontade, determinação e luta. E, pronto, tá tudo resolvido.
Do lado de cá tudo é tão fácil. Que o diga o treinador da França, revoltado pela perda de uma medalha de ouro para um atleta brasileiro em salto com vara, que, do alto da sua sabedoria e perspicácia, descobriu aquilo que muitos estão tentando há muito: o Brasil tem um componente místico que impulsiona os vitoriosos. Não é trabalho, não é determinação, não é entrega, não é treinamento, não é superação, não é foco, não é nada. É o tal do componente místico. Faltou componente místico para o atleta que ia bem e perdeu o fôlego, ao time grande que prometia mais uma supercampanha no campeonato e agora beija o rodapé da tabela de classificação, a todo o país que não decola no quadro de medalhas.
O componente místico existe. Mas, só misticismo não será capaz de derrotar atletas como Michael Phelps e Usain Bolt. Ou seriam eles casos de gente dotada de doses extraordinárias de componente místico?
Claro que o sábio europeu, ferido em seu orgulho, abusou do preconceito e embarcou na canoa daqueles que não sabem porque perdem. Talvez tenha sido apenas irônico. Quem sabe? Ironia é como um tempero. Se for demais atrapalha, se for muito sutil não tem gosto.
Do lado de cá tudo é mais fácil. Ali no ringue dos acontecimentos, onde os nervos estão tensos e o cérebro funcionando no limite, até um deslize como este é possível. Faz parte do jogo, diriam alguns. Explicar derrota é das coisas mais difíceis. Pior ainda quando se tem certeza da vitória. Sejamos benevolentes, neste caso até que vale se socorrer do componente místico.
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