01/09/2016

A Promessa

Fazer uma promessa, nos tempos mais antigos, era assumir uma dívida. Uma criança nascia com algum problema de saúde, às vezes somente muito mirrada e fraca, e a mãe se grudava no santo do dia: fosse João, José, Roberto, Vicente, Jerônimo, Wenceslau, Nicolau, Rosária, Regina, Aurélia ou Das Dores, não importava. Importava isso sim, que alguém, santo ou arcanjo, se sentisse homenageado o suficiente para garantir a vida daquele que nascia.
De outras artimanhas se lançavam mão naqueles dias. Uma junção de pequenos com menos de sete anos de idade ao redor de uma farta mesa (quando possível). Era a mesa dos inocentes, uma forma de honrar uma graça recebida. Comida para encher os olhos e as barriguinhas da gurizada.
Outros criavam compromissos como não cortar o cabelo da criança por um determinado período ou vesti-la invariavelmente de branco nas missas ou coisas neste estilo.  E ai de quem quebrasse o pacto. A promessa era uma dívida e deveria ser paga, sem lamentações nem arrependimentos. Pagar a dívida é o mínimo que se esperava.

Havia uma fé cega é verdade.  Uma busca por um milagre, por algo que se imaginava que não estava ao alcance dos homens. Uma cura, uma vantagem num negócio, um resultado positivo. Ocorre que, em muitos momentos, o dito costume meio que poderia descambar para outro lado, confundindo-se com as simpatias. Conheci alguém que tinha como hábito chantagear os santos virando-os de cabeça para baixo para infligir algum sofrimento. Enquanto não conseguia seu intento, o santo permanecia na incômoda posição. O santo, no caso, era uma estátua dessas de gesso que, a priori, parece não ter nenhum poder sobrenatural. Mas, independente disso, tão logo atendida na sua graça, dita pessoa fazia questão de espalhar pelas redondezas de que seu método não falhava.
Hoje promessas são as artimanhas das mais usadas pelos políticos. Quando a eleição é municipal então nem se fala.  Chega a ser bonito. As ruas dos bairros mais populares enchem-se de movimento. A caravana vai afiada. Bandeiras, carros de som, meninos correndo para cima e para baixo de bicicletas ou a pé. A cachorrada presa em cordas curtas late e se irrita com tanta gente estranha.  O candidato vai dando a cada um sua melhor atenção. Beijos, abraços, sorrisos e promessas de uma vida melhor. Não importa se é governo ou oposição. A coisa vai melhorar. Saúde, educação e segurança. É o mantra do momento.
Ao contrário do povo de antigamente, que levava a sério este negócio de promessa, o que se verá logo após o pleito é que tudo é relativo. E os antigos compromissos têm que caber no orçamento que vai minguando a cada ano. Milagres neste setor nem os santos de cabeça para baixo conseguem mais.
O melhor mesmo é não votar em quem muito promete. O constrangimento, neste caso, será menor para o eleitor e para o eleito.     

Outras promessas;

Engenheiros do Hawaii

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