Era pequeno ainda. Talvez não tivesse completado a primeira dezena de anos de vida. Nas horas
vagas, nos dias em que não havia aula, nas férias, feriados religiosos e no
turno inverso, desde que o sol brilhasse e as nuvens não fossem carregadas,
vivia fazendo pequenas incursões pela mata. Não transitava por estas florestas
de mundo mágico, cheias de duendes e outras criaturas que só fui conhecer nos
livros de histórias. Eram matinhos próximos de casa.
Eu
e meus amigos formávamos pequenos exércitos de exploradores. Na verdade o
exército se resumia a dois ou três corajosos soldados que avançavam
decididamente com o intuito de reconhecer o território e conquistar tudo o
quanto fosse possível. Apesar da audácia, mantínhamos algum cuidado. Não era medo.
Era precaução. Cuidávamos para que nossos pés com o indispensável atrito com o
terreno não gerassem ruídos exagerados e espantassem os animais selvagens, que
porventura estivessem por ali ao alcance de nossas flechas e lanças. Como estes bichos são ladinos e precavidos
jamais ousaram se colocar na nossa mira.
Vez
por outra, entre ervas santas, baleeiras,malhas de cana cidreira, pés de cactos, goiabeiras, limeiras e outras tantas espécies, pequenos filetes de
raios de sol formavam painéis surpreendentes ao longe. Não foram poucas as
vezes que me surpreendi olhando longos minutos para aquelas projeções que, em
alguns momentos, bem que pareciam cortinas que escondiam outras dimensões. Não
era incomum naqueles tempos imaginar que se avançasse um pouco e cruzasse aquela fina cortina de luz, chegaria a alguma
existência muito diferente. Não haveria por ali as dores e os sofrimentos que
aquela gente da vila, tão pobre e desassistida, vivenciava nos seus melhores e
nos seus piores dias. Não por medo, mas
porque minha mãe sempre alertava que devia estar esperto e não devia inventar
nenhuma estripulia ou loucura, sempre achei por bem somente olhar o espetáculo
e não participar dele.
Imaginava
que o sol era o único que brilhava. E que aqui na Terra nós, os sortudos,
escolhidos pelo Pai, formávamos uma comunidade ímpar. Engano, ingênuo engano,
garoto! Há milhões de sóis só nesta galáxia. Milhões, me disseram, dezenas de
anos depois. E há milhões de galáxias espalhadas por um território bem maior do
que nosso matinho, onde as feras se escondiam de nossas flechas e lanças. E mais: alguns juram que há milhares de
janelas que se abrem de vez em quando tal qual as cortinas de luz que se
projetavam na frente dos meninos entre os arbustos e as árvores mais frondosas
há algum tempo atrás.
Porém,
contam por aí, sem alarde, porque pode
parecer coisa de maluco, que vai ser necessário voltar a ser menino de novo
para que se abram estas janelas que levarão os bravos exploradores para os
caminhos onde a água é límpida e os raios de sol energizam os corpos que não
pesam tanto e não são aprisionados pelos pesadelos de nosso tempo.
Pura verdade. Pena que poucos a conheçam.
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