As palavras estão aí e precisam
ser encontradas. Não cabe ao cronista escrever algo no estilo “não tenho
palavras para explicar” ou “não encontrei as palavras”. A coluna do jornal
precisa ser preenchida. Não há como deixar um espaço em branco. Tem que haver
algo publicado ali. De preferência com letras, com palavras e com ideias que,
de algum modo, façam sentido aos leitores. Então, é necessário, é
indispensável, é um imperativo que se escarafunche e que algo seja dito.
Explico: é terça-feira. Uma terça-feira
diferente. O sol sai de vez em quando. Mas, nuvens insistentes cobrem boa parte
do dia. Os sites, os jornais, a tevê, as rádios, as redes sociais. Todos. Todos
estão conectados com a queda do avião da delegação da Chapecoense. Vidas se
foram. Familiares são entrevistados insistentemente. As pessoas querem
explicações. O que houve com o avião? Houve falha humana? O desastre poderia
ser evitado? O clube poderia ter gasto mais algum recurso e conseguido uma
aeronave melhor?
Perguntas
e mais perguntas. As respostas, na verdade, nem são necessárias nestes momentos
de dor, de sofrimento, de estranhamento. Não há como ficar alheio a tudo isso.
Não há, também, como explicar assim com pressa, com rapidez, todo este processo
que envolve a vida e a morte.
Desde
os mais antigos pensadores, sabe-se que a vida física é uma face apenas da
moeda. Tá certo que os materialistas não entendem assim. Acreditam que a vida
se esgota totalmente quando o corpo, que sabemos tem natureza finita, deixa escapar
a última de suas energias. Mas, isso é questão de análise, de convencimento e
até de fé. De lógica, me diriam alguns outros.
É
correto crer, no entanto, que vida e morte caminham juntas. Nossos olhos, no
entanto, encantados com a existência física e com as ilusões geradas pelas mentes brilhantes
que montam os cenários pelos quais transitamos, não percebem que ambas se
movimentam num proximidade impressionante. Já se disse, não lembro bem quem, que o corpo começa a morrer
quando nasce. Isto, porque, cada dia vivido é um dia a menos. Pensamento
pessimista, é claro, que pode ser combatido facilmente pelo outro lado da
moeda: cada dia vivido é um dia de busca, uma oportunidade para que o indivíduo
escreva sua história.
Mas,
o noticiário ainda é quente. E, nas redes sociais, um que outro lembra que Deus
não evitou a tragédia. Reducionismo puro. O processo natural ocorre sem que
vontades interrompam as regras. Há leis perfeitas que não são suspensas por
conveniência deste ou daquele.
Paulo
Paixão, multicampeão pelo Grêmio, pelo Inter e pela Seleção Brasileira, deu o
depoimento mais tranquilo que li neste dia trágico para o esporte mundial. Disse ele que não
havia revolta contra Deus porque é grato por tudo o que lhe acontece.
Comovente. Mais comovente, ainda, quando se sabe que é o segundo filho que ele
perde em questão de alguns anos. Aí entra o componente da fé. Afinal, há de ser
ter fé de que o plano natural se estabelece mesmo quando o homem luta em não
aceitá-lo.
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