Museu do Índio-RJ/ /Arte sobre foto |
Bem-vindos aos
novos tempos. É tempo de opinião. Vale aquilo que se pensa. E, de preferência,
se tu pensares como eu penso. Se compartilhares o que posto. Se curtires as
minhas verdades. Os fatos? Às favas com os fatos. Entre os fatos e as opiniões
fiquemos com as opiniões porque elas variam e os fatos não. Elas apresentam a
beleza do movimento. A inquietude do subjetivo que pode mudar amanhã, depois ou
sempre.O juiz apontou
pênalti. Não importa que tenha sido. Importa nada se o zagueiro, malandramente,
tenha cutucado o avante pelas costas, jogando-o ao chão. O que mais conta é
que, nos tempos do primário, o juiz, que era ruim de bola, disse para alguém
que torcia para o colorado. Isso é o que importa. Assim, hoje, se ele marca um
pênalti não é porque seus olhos viram, porque sua perspicácia, treinada por
anos a fio com um apito na boca, tenha alertado para a infração. Nada disso. A
verdade é que sua decisão foi tomada muito antes. Foi tomada quando nasceu. E
não poderia ser diferente.
A mulher
morreu. Não importa que tenha sofrido. Nem que seus órgãos tenham falido por
cansaço, por desilusão, por vergonha. Importa o que se acha. O que se considera
como certo. E, para levar ao mundo esta verdade, é justo, é necessário que se
exponha aquilo que parece significativo. Nem que sejam as entranhas da mulher.
A morta morreu porque não deveria viver. Talvez não devesse nem ter nascido.
O homem
governa. Não importa que seja de uma gangue. Não interessa que tome medidas que
firam a saúde dos corpos e das almas. Pouco importa. Importa que ele governe e
não o outro, que é digno de ódio. Que morram todos os odiados. E que governem
os meus.
Bem-vindos aos
tempos da opinião. Aos tempos em que os fatos não interessam. Aos tempos em que
as versões e as verdades estão nas bocas e nos corações, nos computadores e nos
smartphones de qualquer um que se digno.
Os fatos? Quem
se interessa por eles? Que valor terão se o que importa é a verdade construída
pela interpretação? E se o sábio calou, porque só ele aprecia o silêncio, e o
atávico gritou, valeu o grito que os ouvidos percebem e as bocas reproduzem.
As opiniões
ecoam na rede. Os fatos são quadros pendurados em uma parede de um velho museu
fechado para o grande público.
Nenhum comentário:
Postar um comentário