16/11/2017

O Trabalho Escravo

De vez em quando, algumas dessas grandes empresas, que gozam de muita credibilidade, de reputação forjada pela qualidade e pela visibilidade midiática, são atingidas por denúncias de uso de trabalho escravo no seu processo produtivo. O assunto nem novo é. Mas, é sempre repugnante.
A escravidão faz parte da história humana. Nas primeiras guerras, aprisionar o inimigo e torná-los escravos era parte do jogo. Não era grosseiro e desumano. Não causava repulsa. Era coisa normal. Que perdia a batalha virava coisa. Perdia nome, família, endereço, pátria. Virava propriedade de alguém. Dizia-se que os perdedores foram abandonados por seus deuses.
Como o tempo, a ferro e fogo, as coisas foram se modificando. É certo, porém, que no nosso tempo, aqui e ali, ainda há culturas que mantém viva esta tradição que revela a mais profunda brutalidade carregada pelo ser humano que vive com os pés num passado muito distante.

Nestes áureos tempos quando cientistas vasculham partículas ínfimas com superpotentes computadores para encontrar sinais da vontade divina, há no nosso planeta muita gente mantida sob controle pleno. Não agem por vontade própria. Não estão autorizados a viver onde desejam e nem como desejam. A organização Slavery Footprint acredita que no mundo sejam em torno de 27 milhões de escravos. Do total pelo menos 18 milhões são crianças.
Muitos desses escravos estão produzindo para empresas que são insuspeitas como a Apple, a Coca-Cola, a Nike, Hersheiys e a conceituada Zara. O processo é intrincado e de difícil solução. As multinacionais espalham sua produção por fábricas em diversos países. Em muitas delas, o corpo de funcionários é formado por trabalhadores que recebem pouco mais do que a comida para mantê-los em pé. E a jornada de trabalho é extensa. A legislação é frouxa. A fiscalização inexiste. O patrão ganha no volume, pois produz muito e paga pouco. A multinacional ganha porque não é onerada com direitos trabalhistas, como férias, licença-gestante, produtividade e essas coisas que os comunistas inventam para frear o progresso.
Resultado dessa operação: produtos mais baratos e lucros estratosféricos para alguns poucos. Os escravos, por sua vez, devem se dar por felizes porque ainda têm o que comer.  Se não quiserem sempre haverá alguém que estará disposto a encarar o desafio.
Grupos internacionais bem que tentam botar a boca no trombone, através de denúncias na mídia. Mas, as notícias envelhecem rapidamente. Passado o primeiro impacto, ninguém vai lembrar que uma criança ficou 12 horas sendo explorado para que o celular, a bebida e a roupa fossem produzidos num cantinho qualquer da China, em Bangladesh ou mesmo em algum galpão em São Paulo. Importa a “felicidade” que a embalagem carrega.
Se no passado a guerra era violenta e chamava a atenção, hoje elas são sutis. São notícias de canto de página. Meras denúncias que morrem tão logo aparecem. 

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