De vez em quando, algumas dessas
grandes empresas, que gozam de muita credibilidade, de reputação forjada pela
qualidade e pela visibilidade midiática, são atingidas por denúncias de uso de
trabalho escravo no seu processo produtivo. O assunto nem novo é. Mas, é sempre
repugnante.
A
escravidão faz parte da história humana. Nas primeiras guerras, aprisionar o
inimigo e torná-los escravos era parte do jogo. Não era grosseiro e desumano.
Não causava repulsa. Era coisa normal. Que perdia a batalha virava coisa.
Perdia nome, família, endereço, pátria. Virava propriedade de alguém. Dizia-se
que os perdedores foram abandonados por seus deuses.
Como
o tempo, a ferro e fogo, as coisas foram se modificando. É certo, porém, que no
nosso tempo, aqui e ali, ainda há culturas que mantém viva esta tradição que
revela a mais profunda brutalidade carregada pelo ser humano que vive com os
pés num passado muito distante.
Nestes áureos
tempos quando cientistas vasculham partículas ínfimas com superpotentes
computadores para encontrar sinais da vontade divina, há no nosso planeta muita
gente mantida sob controle pleno. Não agem por vontade própria. Não estão
autorizados a viver onde desejam e nem como desejam. A organização Slavery
Footprint acredita que no mundo sejam em torno de 27 milhões de
escravos. Do total pelo menos 18 milhões são crianças.
Muitos
desses escravos estão produzindo para empresas que são insuspeitas como a
Apple, a Coca-Cola, a Nike, Hersheiys e a conceituada Zara. O processo é
intrincado e de difícil solução. As multinacionais espalham sua produção por fábricas
em diversos países. Em muitas delas, o corpo de funcionários é formado por
trabalhadores que recebem pouco mais do que a comida para mantê-los em pé. E a
jornada de trabalho é extensa. A legislação é frouxa. A fiscalização inexiste.
O patrão ganha no volume, pois produz muito e paga pouco. A multinacional ganha
porque não é onerada com direitos trabalhistas, como férias, licença-gestante,
produtividade e essas coisas que os comunistas inventam para frear o progresso.
Resultado
dessa operação: produtos mais baratos e lucros estratosféricos para alguns
poucos. Os escravos, por sua vez, devem se dar por felizes porque ainda têm o
que comer. Se não quiserem sempre haverá
alguém que estará disposto a encarar o desafio.
Grupos
internacionais bem que tentam botar a boca no trombone, através de denúncias na
mídia. Mas, as notícias envelhecem rapidamente. Passado o primeiro impacto,
ninguém vai lembrar que uma criança ficou 12 horas sendo explorado para que o
celular, a bebida e a roupa fossem produzidos num cantinho qualquer da China,
em Bangladesh ou mesmo em algum galpão em São Paulo. Importa a “felicidade” que
a embalagem carrega.
Se
no passado a guerra era violenta e chamava a atenção, hoje elas são sutis. São
notícias de canto de página. Meras denúncias que morrem tão logo aparecem.
Saiba mais sobre o tema:
Lista de empresas brasileiras
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