A Criação de Adão, afresco de
Michelangelo no teto da Capela Sistina
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Algumas expressões ouvidas e
ditas aqui e ali, em fontes diversas, vão se constituindo como aqueles velhos
enigmas que se construíram ao longo da história da humanidade. Não digo que
alimente qualquer tipo de expectativa como se fosse vencer as limitações e
adquirisse o direito de sair pelo mundo afora, como faziam os velhos filósofos,
a semeando verdades e revelando segredos que alguém sabiamente escondeu atrás
de intrincadas fórmulas e leis só conhecidas por grandes sábios ou por
iniciados secretamente nas artes do conhecimento. É bem verdade que não chego a
perder o sono. Mas, não dá para negar que, às vezes, uma ideia fica por dias,
por meses e até por anos em algum lugar esperando a hora de que alguma
conclusão apareça.
Uma
dessas afirmações é a de que somos todos deuses em potencial. Durante muito
tempo, minha visão não permitiu que essa afirmação fosse admitida como
possível. Como assim, todos nós somos deuses em potencial? Os humanos carregam
na sua história tanta maldade, tanta crueldade, como conceber que essa gente
que mata gratuitamente seus semelhantes, que elimina nações inteiras, que
prejudica conscientemente a população para acumular riqueza, que arranha,
morde, amassa e oprime, possa carregar algo de divino dentro de seus peitos?
A
lógica remete a um rotundo (como diria aquele político do passado Leonel
Brizola), um rotundo não. Não é possível. Não é admissível. Não é verdade.
Porém, o tempo passa. As ideias vão se renovando. As convicções também vão se
modificando.
É
certo que a tendência humana é privilegiar o negativo. Senão vejamos: os noticiários da tevê
apresentam 40 notícias. Dessas, quantas são baseadas em aspectos positivos?
Talvez uma ou duas, dadas antes do apresentador dar seu boa-noite final. Muitas
das vezes a pauta ficar rondando a desgraça: tantos mortos no furacão, algum
louco abriu fogo contra a multidão, uma bomba colocada por algum grupo
extremista covarde que, em nome de algum deus, explodiu muitos corpos, trazendo
medo, preocupação e raiva. Mas, ainda bem que a economia vai bem. Se o povo
sofre é mero detalhe. Este pequeno detalhe, aliás, deve ser omitido porque já
há desgraça demais e o povo deve saber que a economia vai bem. Ou seja, alguém
vai bem neste universo de desencanto. Que seja a economia.
É
claro que notícias ruins há aos milhões. E rodam o mundo em segundos trafegando
silenciosamente pelas redes virtuais. Mas, e só isso que acontece no mundo? A impressão que tem é que a vida se resume a
isso.
Pois
bem: este é um mundo possível. Há outros tantos possíveis. Os pensadores, dos
mais antigos aos mais atuais, comprometidos em descobrir as razões da
existência humana, são unânimes no entendimento de que a vida não se esgota
numa passagem única por aqui. É claro que os materialistas vão dizer que isso é
uma bobagem, que a ciência não demonstrou cabalmente essa realidade e que,
assim sendo, tudo o que se fala é mera especulação. Tudo é produto da mente. E
tem alguma razão nisso. Pelo menos no quesito produto da mente.
Só
que a mente é um desses enigmas insolúveis, pelo menos até agora. Já se achou
que a mente é o próprio cérebro. Porém, o cérebro é um órgão físico. Não é a
sede do pensamento. O pensamento gera realidades, é outra verdade. E essas
realidades são distintas para cada indivíduo. Identifico aí a possibilidade de
que todos são deuses em potencial. Afinal, todos podem gerar suas realidades. E
a característica principal da divindade é a criação.
Para
muitos, isso tudo é um aglomerado de coisas sem sentido. Outros, no entanto,
entendem que mais do que uma possibilidade isso é uma realidade. E todos têm razão. A sua razão.
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