De quem é a culpa?
Em alguns casos é importante
saber quem foi o responsável pelo afundamento do barco. No mundo jurídico isso
geraria uma série de consequências cíveis e criminais. Alguém haveria de pagar
pelo prejuízo causado. Como? Onde? Quais as causas? Quem executou ou deixou de
executar a manobra? Quem falhou?
Nestes
dias que se seguem à desclassificação da seleção Canarinho Pistola (mau gosto
desde sempre), é o que a mídia, os torcedores e os secadores mais têm feito. Se
Daniel Alves não tivesse se machucado, se o volante Arthur, hoje no Barcelona,
estivesse no elenco, se no lugar do Taisson estivesse alguém mais qualificado,
se Gabriel de Jesus deixasse de ser operário e se tornasse um fazedor de gols,
se o treinador não ficasse apreciando suas ovelhinhas naquela grama sempre bem
cuidada dos estádios russos etc etc etc.
Quem
foi o responsável pelo desastre? Como nessa panela todo o mundo (com
conhecimento de causa ou não) bota a colher, também ouso mexer neste angu.
Creio que todos os adversários olham o Brasil com algum respeito. E não é para
menos. É muito currículo. Muita vitória. Muita força. Corrijo a tempo: é muto
currículo, é muita vitória e era muita força. Afinal de contas, o que menos se
viu neste mundial foi força brasileira. Pariram-se algumas bigornas para chegar
até o enfrentamento com os Belgas.
Os
adversários, canários legítimos, ignoraram solenemente a força brasileira
chegando à soberba de garantir o jogo no primeiro tempo. Do outro lado, um time
que parecia amarrado, sem brilho, sem reação. Um treinador nervoso, apavorado.
Visivelmente surpreendido. E assim foi.
Já
faz uma semana dos acontecimentos. A ficha já caiu. Lula foi ameaçado de
soltura. No fim, permaneceu preso. Pelo menos é o que acontece nesta
segunda-feira, enquanto esta crônica vem sendo escrita. Do jeito que coisa
anda, vai que a situação mude. Assim pensei durante o jogo contra a Bélgica: o
Brasil deu uma melhorada. Fez um gol. Deu uma sacudida. Parecia que iria
reagir. Mas, era o canto da morte. Tal qual um doente que luta a tempos contra
uma enfermidade: a melhora foi ilusória. Não foi suficiente para levantar o
doente do leito.
Nosso
futebol está doente. Meninos saem do país para desfilar na Europa ainda na
puberdade. Dão três ou quatro passes qualificados, fazem três ou quatro jogos
por seus times e tornam-se astros nas terras dos outros. Desta forma: o que
para nós pode parecer um desastre para alguns deles, que mal conhecem a
realidade, é mais uma postagem no Instagram.
“Estou me sentindo muito mal. Não deu dessa vez. 2022 nos espera”.
Sei
não. Olhando tudo isso, cada vez mais admiro a Celeste Olímpica. Sabidamente o
Uruguai não tem todas opções que o Brasil tem. Mas ao menos empenho, suor e
dedicação não faltam.
Quem
foi o culpado pelo naufrágio? Não saberia apontar um só. Creio que a Seleção Brasileira tornou-se refém como
refém é o Brasil. Políticas nem sempre justas, nem sempre limpas, nem sempre
privilegiando a maioria. O jogador que foi mal, o atleta que nem deveria estar
lá, o treinador que não foi bem são alguns dos responsáveis. Mas, o negócio é
bem maior. Talvez maior do que nós, que estamos aqui na província sem conhecer
muito as engrenagens e os mecanismos da complexa fábrica que é a seleção
nacional.
De
qualquer modo: talvez por ignorar os meandros deste sistema, continuo torcendo
para que a seleção ganhe a Copa América e outras competições. Afinal, como
diria aquele pretenso filósofo das coisas rasas: futebol é futebol.
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