Mina terrestre, artefato de guerra |
Os dramas coletivos são capazes de inscrever no mapa locais até
então desconhecidos da grande maioria das pessoas. Em 2015, Mariana,
a primeira capital da Província de Minas Gerais, vinha vivendo um
período de pouco destaque, muito embora a grande produção de
minérios. A mineradora Samarco protagonizou um desastre com o
rompimento de uma barragem matando 20 pessoas e causando praticamente
a destruição do Rio Doce. Até o momento era o maior desastre
ecológico registrado no país.
Agora foi a vez de Brumadinho, uma pacata cidade mineira de menos de
40 mil habitantes, vivenciar um drama ainda maior. Entre mortos e
desaparecidos mais de 300 pessoas. A Vale, empresa que explora a
mineração na área, lamentou muito o ocorrido. Suas ações na
bolsa de valores caíram 20%, diz a manchete do jornal.
Dois dramas. A mesma receita. A mesma ação. Como os recordes estão
aí para serem batidos, o drama de Brumadinho se coloca na dianteira
entre os desastres ecológicos registrados na Pátria Amada.
Faz alguns dias uma dessas lideranças da nova era afirmava
descaradamente que a questão ambiental era coisa de marxista. O
presidente mesmo, naquelas manifestações tão aplaudidas pelos seus
fiéis seguidores, logo em seguida afirmava que o licenciamento
ambiental causava grande prejuízo ao empresariado. A norma era
flexibilizar. O empresariado bem merecia maior liberdade para cavocar
seus lucros sem tanto achaque governamental.
O desastre criminoso em Minas Gerais, que consumiu centenas de vidas,
trazendo dor e sofrimento para milhares de pessoas e consternação
em todo o planeta, é daqueles fatos que desmancham teses. As leis
ambientais tão duras contra os pequenos parece tão flexível quanto
ineficaz quando o interesse é de grandes conglomerados. Pelo número
de mortos nas duas tragédias mineiras (Mariana, em 2015 e Brumadinho
mais recentemente) e pelo alerta de que existem mais 400 barragens
construídas no mesmo estilo em Minas Gerais, pode-se acreditar que a
exploração econômica é a grande prioridade. A vida humana parece
ser um mero detalhe.
Mesmo não sendo marxista (muito embora poderia sê-lo), preocupo-me
com a questão da flexibilização da lei ambiental. Claro, é
razoável destacar que a culpa não recai sobre este ou aquele
presidente ou governador. O Poder Público como um todo vem
claudicando. E faz tempo. Uma tragédia que poderia ser evitada e que
se repete desta forma, talvez possa servir de alerta aos que preferem
o discurso fácil e descomprometido com a realidade das pessoas.
Melhor seria dizer, o discurso fácil e comprometido com a realidade
dos investidores.
Ás vezes é melhor ser duro onde precise e flexível onde seja
necessário. Os políticos, em muitos casos, optam pela dureza onde é
desnecessário e pela flexibilidade onde seria impensável. Contam
com os aplausos irresponsáveis e pelos vivas das redes sociais. Se
algo não der certo a culpa é do outro. E assim seguimos rumo ao
desconhecido.
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