26/02/2019

Sobre memes e vírus


Os meios de comunicação influenciam sobremaneira na forma como as pessoas se manifestam no seu dia a dia. Há algumas décadas, a informação circulava com alguma lentidão. Houve um tempo em que os maneirismos dos programas de tevê, os bordões dos programas humorísticos, eram incorporados no vocabulário da molecada e mesmo dos adultos sem noção. “Vai pra casa, Padilha!”, “tem pai que é cego!”, “e o salário, ó!”, “o macaco tá certo!”, “Cacildis”, foram algumas dessas expressões criadas por humoristas como Jô Soares, Chico Anysio e Mussum que os meninos gostavam de usar no meio de suas conversas um tanto quanto despretensiosas. A ingenuidade ainda dava as caras.
A tevê, apesar de ver sua força reduzida com o advento da internet, ainda mantém certa importância no processo de comunicação de massa, especialmente entre os mais velhos. O público jovem, no entanto, é mais chegado na mensagem instantânea. As ferramentas de mensagem e os aplicativos de vídeo se prestam mais à difusão destas mensagens que viralizam. Normalmente são pequenas bobagens, tropeços de qualquer ordem, zoações sem sentido, pequenas sacações ou, ainda, ações que reafirmam preconceitos e ideias prontas.
Os memes estão aí. Volta e meia uma imagem, um trecho de música, uma coisa qualquer se espalha como um vírus e varre o mundo ganhando versões em todas as línguas, atingindo gente da metrópole, da pequena cidade ou da tribo que, apesar de distante, encontra-se conectada. Engana-se quem acredita que o termo meme foi criado por algum nerd que vive escondido atrás de uma tela de computador. Nada disso. Foi um biólogo inglês, Richard Dawkins, na obra O Gene Egoísta, quem deu as linhas básicas para esta criatura que, segundo ele, é uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma autopropagar-se.
Outra contribuição dos tempos de comunicação rápida é a reação. As redes sociais são um verdadeiro caldeirão, pois dão voz tanto ao sábio quanto ao tacanho. E contestar é a palavra da vez. Um comentário qualquer, uma vontade, uma opinião, um sim ou um não, tudo o que for colocado no caldeirão tende a ferver. Conservadores, fundamentalistas, descerebrados, desequilibrados ou contestadores profissionais até parece que ficam esperando alguma postagem para meter a colher. É uma paixão desmedida, uma necessidade em ter razão que vou te contar.
Como tudo tem duas vias, o que acontece lá na rede tende a se transportar para o mundo material. Então, nos dias de hoje, qualquer coisa dita pode virar uma celeuma, uma discussão interminável gerando sempre certa apreensão. Há de se ter muito cuidado com o que se fala, com o que se propõe. Foi-se a naturalidade. Criam-se teias de subjetividade onde o que existe é o objetivo.
No meio de tudo isso, há grupos enormes que simplesmente abandonam as redes sociais, desligam a tevê, deixam de opinar porque a verdade está posta. O mundo do conhecimento caminha na direção da verdade múltipla. Por aqui, a verdade acompanha aquele que grita, que ameaça e que vive como um soldado da milícia que busca aniquilar o outro.

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