É da natureza dos animais a luta pela sobrevivência. Nas florestas
que restam em todo o planeta, notadamente cercadas e mantidas por
governos como reservas biológicas, é normal a luta encarniçada das
espécies para matar a fome e prosperar até o dia seguinte. Não há
dó nem piedade. Um leão ou um leopardo não viverão dramas
existenciais quando avistarem um filhote de gazela disperso de sua
manada e, portanto, indefeso. A graça e a beleza se vão para
sempre. Restam pedaços de carnes e ossos trucidados por dentes
fortes e engolidos por uma boca faminta.
Entre os homens civilizados, cultos e pretensamente conhecedores das
razões da existência esta ação natural que acomete todos os seres
bem que poderia ficar ao largo. Mas, vez por outra, essas guerras
animalescas bem que tomam conta da realidade humana.
Dia desses, numa das rádios mais ouvidas da Capital, alguns
deputados federais, que selam o destino das pessoas votando projetos
bem ou mal-intencionados, discutiam os rumos do país e da
necessidade de implementar uma ampla reforma no sistema
previdenciário pátrio. Os esquerdistas defendiam a desumanidade do
projeto capitaneado pelo presidente eleito. Diziam que, na realidade,
a preocupação governamental é reduzir os ganhos da grande maioria,
justamente a população mais pobre do país. Denunciaram que a
propaganda do governo fala em acabar com os privilégios, mas, na
prática, o que vem acontecendo é justamente a manutenção dos
privilégios às classes mais abastadas.
Do outro lado, os argumentos eram os de sempre: deficit no caixa,
aumento da expectativa de vida, privilégios e outras coisas já bem
conhecidas.
Um dos debatedores destacou que o presidente já demonstrava nos
bastidores uma disposição em destinar recursos na sua base, algo em
torno de 10 milhões por deputado, para garantir a aprovação das
medidas. Eis que um governista saltou e assumiu o microfone
garantindo que é totalmente contra qualquer toma lá dá cá. Que o
presidente eleito veio com a responsabilidade de implantar nova
política, varrer os velhos hábitos do meio político e blá-blá-blá.
Há pessoas que acreditam nisso. Que, sinceramente, deitam suas
cabeças no travesseiro e agradecem por tudo isso. Acreditam que
estão certos. Que o novo está aí. Os outros é que não querem
ver. De outra ponta, outros, no entanto, perdem o sono. Sabem que a
falsidade costuma rondar os gabinetes acarpetados dos poderosos e que
o que se diz na intimidade do poder não se diz publicamente.
Voltando ao debate, o deputado governista disse que não acreditava
que o governo, o da nova e não da velha política, vá agir desta
forma. Qualquer coisa em contrário deveria vir acompanhado de
provas. Ora, ora… Desde quando negociações sobre tramitação de
medidas radicais envolvendo Executivo e Legislativo se tornarão
públicas. Ingenuidade ou má-fé. Só pode!
E assim seguimos na selva. Leões e leopardos loucos de fome de um
lado, salivando por uma presa. Não há grandes dramas nem complexos
de culpa. A carne é fraca. Mas, é necessária. Nem que seja de um
velho doente, de um trabalhador que mais vive no desemprego do que no
emprego formal. Quem mandou ser indefeso. O deficit de caixa tem que
ser coberto. Gasta-se demais. Isso tem que acabar.
Azar de quem virou a caça. O caçador está solto. Ele tem fome.
Privilégio será sair vivo dessa guerra dos bichos.
Isso é uma crônica. E é assim. Somos o bixo que servira de alimento. E o círculo vicioso (ou viciado) se eterniza!
ResponderExcluirGostaria de estar totalmente enganado, mas a prática do dia a dia não permite. Abraços!
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