Sucedi
Luiz Henrique Benfica na produção do programa Olho Vivo, da Rádio
Osório. Era a maior audiência da emissora. Na realidade, continua
até hoje sendo um referencial no radiojornalismo da região. Por ali
o litoral norte se comunicava. Osório, Capão da Canoa, Tramandaí,
Palmares do Sul transitavam pelas ondas da rádio. Num tempo em que
só havia telefone fixo o trabalho era penoso. As entrevistas eram
agendadas no dia anterior. O chiado na linha telefônica por vezes
inviabilizava o bate papo. Pedro Farias, diretor da rádio,
apresentava o programa.
O
grande desafio era conseguir entrevistados para o sábado pela manhã.
As prefeituras encontravam-se fechadas, as câmaras de vereadores
também. Naqueles tempos os sábados eram mais preguiçosos. As
autoridades, que normalmente eram ouvidas durante a semana,
descansavam naquele dia. O esforço era grande para encaixar alguém
que tivesse um bom papo para preencher os espaços que se tornavam
cada vez maiores. Às vezes a vítima escolhida demonstrava pouca
intimidade com o microfone e a entrevista minguava. Era um desespero
pegar o telefone e ligar para deus e o mundo, acordando uns que se
negavam a falar ou, ainda, ouvindo pacientemente o telefone chamar
sem resposta até final no tradicional puc puc puc .
Certa
vez o Pedro saiu de férias. Pegou uns dias para descansar. Fiquei
responsável pela produção e apresentação do programa a semana
toda. Gastei todo o repertório. Sexta-feira, no final da tarde,
bateu o desespero. Era verão e ninguém estava disponível. Fiz uma
verdadeira ronda e nada.
Mas,
havia sempre uma carta na manga. E a carta era ouvir um historiador
para falar sobre o passado da cidade e da região. Uma entrevista
leve. Convoquei o dr. Guido Muri, historiador e entusiasta pela vida
osoriense, que vez por outra salvava o programa. Era conhecida sua
posição contrária à mudança do nome da cidade. Acreditava que
Osório deveria retornar ao antigo nome Conceição do Arroio.
Criticava o ato arbitrário do governo do Estado que, em 1934, através
de um decreto e sem ao menos consultar os cidadãos, abandonou a
santa e homenageou o militar. Isso, segundo ele, de algum modo
contribuía para que a cidade vivesse na míngua, sem crescimento
econômico e progresso.
De
conceição do Arroio para o Mundo
A
Rádio Guaíba e o Correio do Povo mantinham no período de verão um
repórter para acompanhar as notícias da Orla Gaúcha. Waldomiro de
Oliveira, de voz suave, agradável e dicção limpa, era o
responsável pelos boletins e textos. Pois, na segunda-feira, após a
manifestação do dr, Guido Muri, o Correio publicou uma pequena e
curiosa nota destacando o “movimento pela mudança de nome da
cidade”. Aventou-se a possibilidade de realizar um plebiscito para
ouvir a comunidade. Não sei ao certo se foi por causa disso. Porém,
pouco tempo depois, Pedro voltou aos microfones e nervosamente
enterrou a tese.
Crônica publicada no Caderno Mundo das Ideias, em 25.04.2019, encartado no Jornal Bons Ventos.