20/01/2011

As dores do Rio em janeiro

Para muitos, o Verão é a estação da liberdade, da inventividade, da criatividade. A incidência solar anima. A alegria é a tônica no sul do Equador. Surgem as modinhas, os amores casuais, as relações que duram até o fim da temporada. É quase um tempo sem compromisso. Não é para menos que o pior dos cardápios televisivos, o BBB da Globo, invade e devasta a programação. Nos últimos tempos, porém, têm residido justamente neste período os maiores desastres relacionados à convivência entre humanos e natureza.
O Rio de Janeiro, cartão postal da humanidade, é a grande vítima daquilo que se convencionou chamar de "fúria da natureza". A região serrana carioca contabiliza o desastre. Correntezas de águas e de lama transformam o cenário por onde passam. Antes uma pousada paradisíaca, onde imperava a alegria de turistas, hoje um monturro. Ferros retorcidos, vidas consumidas.

Os números são alarmantes. Perto de 700 mortos, centenas de pessoas desaparecidas, filhos separados de pais. Milhares de famílias desprovidas de suas casas. Gente empilhada em escolas, em ginásios, em hospitais improvisados. Pânico e dor. Incerteza e fé. Crianças perdidas, pais e familiares se procurando. Sofrimento da perda. Onde foi parar a rua que estava aqui? Histórias comoventes de gente que resistiu bravamente embaixo da lama. Meninos e meninas, homens e mulheres que foram poupados. Estiveram do outro lado, mas ainda era cedo e aqui permaneceram.
Construções belas, aparentemente sólidas, tornaram-se brinquedinhos de papel. Fortes colunas, paredes bem construídas, bem estruturadas, pareciam casinhas de criança. A água represada encheu rios, córregos, desceu morros tomando de assalto os vales, levando o que se encontrava no caminho.
Culpa de quem? Ora, encontrar culpados é a coisa mais fácil que há. Os governos, imprevidentes, que aprovaram a ocupação desordenada? As pessoas, que se beneficiaram da gula imobiliária, da especulação? Ou a natureza? É mais fácil para todos nós lançar na conta da natureza todo o resultado das catástrofes que se apresenta aos nossos olhos. Logo ela, tão atacada, tão contida, tão vilipendiada ao longo das décadas. Aterros, desvios dos cursos de água, construções irregulares. Contê-la parecia tão fácil! Porém, quando as forças da natureza se unem, quando inúmeros fatores conspiram, as pedras não resistem. O homem não resiste.
A tragédia comove. Desperta na maioria das pessoas os melhores sentimentos. Motivados pela cobertura insistente da televisão, que não poupa espaços em sua programação, brasileiros de todos os rincões, enviam donativos. Roupas, água potável, alimentos, colchões. Cada um quer fazer a sua parte. Auxiliar como pode.
Enquanto comove muitos, a tragédia para tantos outros é tempo de lucro. Os sites de notícias informam que foram presos indivíduos que buscavam o enriquecimento fácil desviando parte dos donativos. A necessidade, a dor e o sofrimento de seus pares não são suficientes para demover os lobos famintos. Assim foi nas tragédias anteriores em Santa Catarina, no Rio, em São Paulo, em Minas ou aqui mesmo, no nosso querido chão. O lobo voraz espreita. Delicia-se com a possibilidade de algo novo para consumir. Podridão no ar! É o próprio homem que fede!
Nossa prece, nossa torcida pelo sofrido povo carioca. Que o riso e a leveza voltem a imperar!

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