Recebi dia desses um e-mail onde um suposto Luís Fernando Veríssimo analisava o Big Brother. Analisava não, descia o cacete sem piedade, sem misericórdia. Criticava a Globo, o Bial e todos os que protagonizam o triste espetáculo televisivo. Li uma ou duas frases. A conclusão foi rápida, não era o LFV, muito embora embaixo do texto seu nome aparecesse com destaque. Havia sangue demais, indignação demais. Nada de humor, nada de sutileza. Tudo revelado sem meias palavras, sem aquele conhecido sentido oculto que ele habilmente imprime em suas obras.
Um professor universitário disse certa vez que, quando nós, acadêmicos de Direito, estivéssemos perdendo a discussão jurídica, deveríamos jogar algumas palavras na boca de Rui Barbosa e xeque-mate! O conselho, se rasteiramente analisado no âmbito jurídico, induzia a um comportamento desonesto, também conhecido como 171 ou estelionato. A desfaçatez, a esperteza a nosso serviço. Lição de desonestidade na sala de aula.
Diariamente recebo mensagens. Muitas delas vêm com a assinatura de um indignado Arnaldo Jabor. Outras com a chancela de Marta Medeiros. Algumas outras com o nome de Chico Xavier. Grande parte desta produção nunca teve o suor dos citados autores. Discutível esta mania de divulgar pela internet ideias e assiná-las com nomes de peso. É um desserviço, um engodo. Não contribui em nada a difusão de informações distorcidas no meio virtual.
Por outro lado, tanto quanto o Falso Veríssimo, abomino o BBB. Não gosto do formato, não gosto de bisbilhotar aquela gente dentro daquela casa. Abomino as tiradas do Bial que transformou aqueles candidatos a celebridade em heróis. Heróis? Porém, chegou a hora de dar o braço a torcer. O time que produz é peitudo mesmo. Os caras são espertos demais. Querendo ou não o programa é assunto sempre.
Na edição que nos aporrinha, aprisionaram gatos de todas as matizes, de todas as orientações. Não faltam elogios para a produção que colocou um transexual. Aplausos pela ousadia. Contribuem assim para a redução do preconceito. “Santa falsidade, Batman!” O que conta é o IBOPE. Aliás, gente assistindo é o que não falta. Ainda mais que neste tipo de programa apela-se para o chocante, para o diferente, para aquilo que pode chamar a atenção dos voyeurs.
A fórmula não é nova. Os soldados capturados nas guerras pelos romanos, em sua voracidade expansionista, viravam heróis e lutavam até a morte nas arenas de Roma. Eram espetáculos públicos admirados. Era o circo que o povo precisava. Talvez houvesse mesmo algum Bial tentando filosofar enquanto os gladiadores impunham golpes mortais em seus adversários, para delírio da arquibancada lotada.
Como dizia o fanfarrão Chacrinha, “nada se cria, tudo se copia”. Quando não havia ainda uma Lei dos Direitos Autorais, a fórmula romana foi apropriada pelo Circo dos Horrores. Era um espetáculo grosseiro que expunha pessoas e animais com deformações. A Mulher Barbada, o Homem Unicórnio, A Menina de Quatro Pernas, O Homem Elefante eram as celebridades deste triste circo. Algumas dessas atrações eram vendidas pelas próprias famílias. As aberrações chamavam tanto a atenção que os donos construíram grande fortuna no fim do século XIX e início do XX. Não consta que a simples exposição tenha reduzido o preconceito em relação às deformidades.
Da mesma forma, a simples exposição de transexuais e homossexuais em espetáculos televisivos não tem o condão de garantir a eles o respeito que merecem. Isto somente será conquistado ao longo do tempo. A fórmula do programa, na realidade, ajuda a cristalizar o preconceito. Se não me engano, o primeiro excluído foi justamente o diferente. Enquanto a questão permanecer no âmbito do Coliseu ou do Circo dos Horrores não será bem definida.
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