Houve um tempo em que não havia computador. Ele não fazia a menor falta. Cálculos enormes eram feitos em calculadoras. Pesquisas escolares eram feitas nas enciclopédias, uma coleção de livros ilustrados onde se encontrava registrado o conhecimento humano. Houve um tempo em que não havia internet. Ela não fazia falta. Os contatos eram lentos, o mundo andava com vagar. Não havia a sede do instantâneo.
Eis que surge o computador. Os homens vão se ligando de todas as partes numa rede chamada internet. As conexões são precárias tanto quanto o sistema telefônico vigente. No entanto, com investimentos pesados em tecnologia o que era lento foi ganhando velocidade. Em pouco tempo o que não fazia falta virou indispensável. Surgem as conexões rápidas, ultra-rápidas. As enciclopédias, que viviam desde o Século XVI, foram sepultadas. O conhecimento humano foi pulverizado. Fontes fidedignas pra quê?
Hoje o computador e todo o sistema de comunicação virtual são indispensáveis. Há uma total dependência. Trânsito, aeroporto, marcação de consultas em hospitais, vagas em restaurantes, tíquetes no estacionamento, entrada no cinema. Tudo dependendo do sistema. Uma submissão absoluta à conexão.
As novas gerações então não conseguem imaginar como nós, os remanescentes do mundo pré-computador, conseguimos permanecer vivos durante tanto tempo sem os benefícios do ambiente dos sites, dos blogs, dos jogos, do YouTube, do Google, da Wikipedia, do Facebook e dos memes. Elementar meus caros, só faz falta o que existe.
Mudaram os hábitos, mas não o costume. Muitas corporações vêm emitindo faturas de serviços que não prestaram, valendo-se de informações públicas ou privadas que estão disponíveis na rede. Quem não confere a conta telefônica, o extrato bancário ou os itens do cartão de crédito paga a conta. Um que outro percebe a artimanha e tenta reverter a situação. Golpezinho básico: um real, cinco reais ou dez reais a mais em alguns milhares de clientes resultarão em alguns milhões de dólares em pouco tempo. Tudo limpo, tudo certo, sem muito alarde.
Há golpes mais simples, menos complexos. Vendem-se planos de internet com determinada velocidade. Entrega-se bem menos do que se vendeu. Resultado: lucro na bolsa. Um que outro reclama. Um que outro esperneia. Um que outro se sente ofendido em seus direitos. Um em milhares.
De certo modo o mundo virtual potencializou tudo. O bem e o mal. Inclusive as formas de achaque aos bens alheios. Tudo limpo. Sem sangue. Sem emoção. Sinal dos novos tempos. Sinal de que as indispensáveis conexões nos deixam mais frágeis num ambiente onde não há muitos escudos para o cidadão comum.
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