Você acorda cedinho. A primeira ideia que vem à cabeça é de que o dia será um daqueles. Nada dará certo. Tudo o que tiver de ocorrer de errado, acontecerá. “Impressão minha!”, pensará, tentando afastar da mente a mensagem negativa. Um bom banho ajudará a banir aquele pensamento indesejado. Porém, logo ao ligar o chuveiro constata que jorra uma água fria. Mexe daqui, mexe dali e nada. Conclusão: a resistência o deixou na mão, sem nenhum aviso. Duas alternativas restam. Encarar o jato frio ou abortar a chuveirada.
Você acorda cedinho. Os pássaros, alegres como só eles sabem ser, anunciam um novo dia. Abre a janela. O ar puro enche o quarto. Os raios de sol batem nas árvores, ressaltando o verde vibrante da natureza. Mais um dia que chega. Mais uma boa oportunidade pela frente. A melhor roupa já havia sido escolhida. Um banho o espera. Do chuveiro escapa um jato de água fria. “É bom para a saúde!”, pensa, lembrando do seu pai que narrava as dificuldades encontradas quando era um recruta no Exército Nacional. Enfileirados e sem alarido passavam todos por um chuveiro improvisado no meio do pátio. Verão ou inverno, a água fria acordava os corpos que ainda guardavam o cansaço das atividades do dia anterior.
As cenas dos parágrafos anteriores podem ter ocorrido algum dia. Talvez o leitor as tenha vivido em momentos distintos. O que muda, na realidade, é a percepção, o sentimento de cada um. O homem é um mutante. O que hoje parece bom, amanhã bem pode não ser. Além do mais, para quem vê a vida com a lente do pessimismo, os sinais recebidos serão percebidos sempre pelos aspectos negativos. Já aqueles que riem e acham graça, que percebem um lado bom em tudo, é a do otimismo a lente usada.
Os dias de infância, quando mais nos ocupávamos dos sonhos do que da vida, pareciam reservar a todos os melhores dias. Os dias, porém, avançam decisivamente em direção à maturidade. O tempo passa, mesmo que de maneira imperceptível. Tempos normais, sem atos heróicos. Passos e passos rumo a um futuro incerto. Às vezes destemidos. Outras vezes nervosos e contidos. O futuro sendo construído aos poucos. De leve, sem alarde.
As crises, o aparente caos, os passos em falso vez por outra constituem aquele tempero necessário para sacudir o cotidiano, para alterar as rotas em direção a outros caminhos antes não percebidos. Alguém lembrará a tão falada “zona de conforto”. A letargia, o costume, a falta de indignação, o comodismo. Coisas do mundo adulto. Nos nossos sonhos infantis, os dias sempre prometiam algo de bom. Um campo aberto para a experimentação sem medo.
E assim é. O futuro está sendo construído. Será o resultado dos pensamentos e ações, dos planos e do trabalho, dos sonhos e de um que outro pesadelo. Os dias nascem independentemente do nosso esforço. Ao final terão sido bons ou ruins, positivos ou negativos, promissores ou não. Tudo isso conforme a percepção de cada um de nós.
“É bem essa!”, diria um antigo conhecido.