Poucas vezes o futebol sai das quatro linhas e avança no mundo da filosofia, da ética e da moral. Isto porque há certo preconceito em relação ao jogo. Talvez por ser popular demais, por envolver paixões desenfreadas de milhares de seres, os cronistas, os pensadores e os debatedores de plantão não invistam parte do seu tempo em discutir de maneira mais amiúde os meandros do esporte bretão.
Hoje, no entanto, a discussão sobre o que é certo e o que é errado no campo futebolístico têm crescido mundo afora. Na Europa, os atacantes coram as faces quando levam alguma vantagem indevida sobre os defensores. Depois do jogo, invariavelmente, vêm às câmeras de tevê e pedem desculpas aos colegas de profissão, aos jornalistas, aos dirigentes, aos familiares porque não foram corretos em determinado momento. Enquanto isso, por aqui, no “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”, a discussão é bem outra.
Na visão do torcedor comum, aqui dos trópicos, aquele que espera o fim do jogo para flautear o adversário, o que importa é vencer. Importa sentir o doce sabor que só a vitória oferece nem que ela seja construída em cima da fraude, da falcatrua. O que vale é a bola na rede. Não interessa se o jogador calhordamente deixou-se tocar pelo adversário. Se foi pênalti ou não, pouco importa. Se o jogador ludibriou a arbitragem, parabéns a ele que foi um ator convincente. Se a vitória chegar desta forma é porque foi justa, foi merecida e não há reparos a fazer. O resto? Bem, o resto é choro de perdedor! No jogo vale tudo. A Vitória é o que importa. Jogo é jogo.
Já os europeus detestam simulações. Querem um jogo limpo. Para os endinheirados europeus, que pagam fortunas para frequentar as confortáveis arenas, não basta vencer. Vaiam exaustivamente os jogadores que tentam ludibriar. Acham que não vale a pena vencer de maneira desonesta. Cobram uma postura ética dentro de campo. É outro jogo, outro sentimento, outra cultura.
Os brasileiros, argentinos, uruguaios e também os latinos são fanáticos. Assistem ao jogo de outro jeito. Valorizam a vitória. Aceitam a malandragem como forma de chegar à vitória. São dois jogos diferentes. São torcidas diferentes e motivações diversas. Por aqui se chega às raias da insanidade de tentar fazer valer um gol de mão. O desespero é grande, bem sei. O futebol envolve milhões. Cair para a segundona abre um rombo nas finanças. Abate o torcedor. Aniquila o moral de dirigentes, de atletas. O choro é livre. Nesta situação, os meninos fazem valer sua mentalidade mediana. Olham para o sofrimento futuro, para o que virá.
Talvez pensem que ética, moral e princípios filosóficos poderão fazer parte da discussão um dia qualquer quando a situação esteja um pouco mais favorável para o seu time. Importa ganhar, nem que seja em situação de impedimento, com gol de mão, aos 50 minutos do segundo tempo.
Outros gols de mão:
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